Autor(es): Luciano Máximo | De São Paulo
Valor Econômico - 15/04/2011
A proposta em discussão no encontro de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics) para usar moedas próprias nas transações comerciais do bloco é vista com bastante ceticismo por especialistas. Entre os problemas apontados estão o maior custo para as empresas na conversão cambial das operações em comparação com as taxas praticadas atualmente com o uso disseminado do dólar, a tendência de o yuan ser imposto como principal moeda e até a timidez com que avança o sistema de pagamento com moeda local estabelecido entre Brasil e Argentina em 2008.
Dos R$ 32,5 bilhões exportados pelo Brasil à Argentina em 2010, apenas R$ 1,2 bilhão não foram comercializados em dólar, valor que representa 3,8% do total. Das vendas argentinas ao país no ano passado (R$ 25,3 bilhões), o desempenho é ainda pior: o montante pago em reais pelas empresas brasileiras foi de 0,03%, ou R$ 9,1 milhões. "As grandes empresas, que têm condições de negociar taxas mais baixas de conversão do dólar, não participam desse sistema", explica José Augusto de Castro, da Associação Exportadora Brasileira (AEB), salientando que 90% das transações comerciais brasileiras são feitas em dólar, 5% em euros e os outros 5% em outras moedas.
Para o economista José Luiz Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), as transações em moedas locais precisariam "crescer muito" em escala para competir com o dólar ou o euro, o que não acontece por decisão de governo. "Não vejo benefício do ponto de vista do custo de transação para exportadores e importadores, mas poderia ajudar a reduzir a internalização de dólares da economia brasileira e diversificar reservas. Isso diminuiria a pressão sobre o câmbio valorizado desde que as transações tivessem densidade dentro dos Brics", avalia Oreiro.
Castro acrescenta que o tema interessa mais à China que ao Brasil. "É o maior importador e exportador do mundo, tem trilhões de dólares em reservas. Por que passaria a aceitar reais? É um sonho distante, a não ser que a China imponha o yuan como principal moeda conversível do bloco, até para desviar o debate do assunto cambial de momento", argumenta Castro.
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