Fazenda frustra a expectativa no câmbio

Eduardo Campos
Valor Econômico - 07/04/2011

O que orientou a tomada de posição no mercado de câmbio foi o anúncio do Ministério da Fazenda, feito por volta das 13h30, de que divulgaria novas medidas na área cambial no fim do dia.

Todos esperavam uma tragédia, mas nada de muito grave aconteceu. Novamente, "a montanha pariu um rato".

O que de fato aconteceu foi um ajuste na medida anunciada na semana passada sobre a incidência de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre captações externas. O prazo subiu de 360 dias para 720 dias. Ou seja, a tomada de empréstimos por bancos e empresas que tenham prazo inferior a dois anos pagará IOF de 6%.

No mercado, especulou-se de tudo um pouco, IOF de mais de 10% em captações, IOF maior em bolsa, em renda fixa e quarentena.

Mas não seu deu muita bola a expectativas de alguma mudança em posições vendidas de bancos ou coisa mais sofisticada, pois isso envolveria o Banco Central (BC) e a percepção era de que essa empreitada era apenas da Fazenda.



Segundo um operador, podemos esperar uma abertura em firme queda no preço do dólar, com a linha de R$ 1,60 ameaçada. "Mais uma vez, o governo tentou ganhar o mercado no grito", disse o operador.

Com o anúncio, completou o especialista, o vendido em dólar (que ganha com a queda) dormiu a quarta-feira rindo, enquanto o comprado (que ganha com alta) teve pesadelo com a abertura de hoje.

O ministro Mantega voltou a falar que a medita visa desencorajar a tomada de crédito de curto prazo no mercado externo e seu repasse no mercado local. No entanto, há quem veja nisso mais uma artimanha arrecadatória do que qualquer outra coisa, assim como a elevação do IOF nas compras feitas no exterior com cartão de crédito.



Para parte do mercado, o principal foco de valorização do real não é o fluxo, mas sim as operações com derivativos. E essa modalidade de operação segue livre tanto das ações da Fazenda quanto das atuações do BC.

O anúncio de que algo seria feito no câmbio foi como uma parede para os vendedores, que vinham firme, mirando a linha de R$ 1,60. No fim das contas, o dólar comercial encerrou o dia com alta de 0,31%, a R$ 1,614 na venda. Antes disso, a moeda tinha caído a R$ 1,603 pela manhã.

No mercado futuro, o dólar para maio apontava alta de 0,18%, a R$ 1,620, antes do ajuste final. Na mínima, o contrato foi a R$ 1,6065.

Vale notar que antes do "evento Fazenda", o mercado estava de olho na linha de R$ 1,606 no mercado de dólar futuro, pois parecia que algum investidor estava defendendo veementemente essa posição.

Coincidência ou não corria pelas mesas que caso essa linha fosse rompida, seria executada uma opção com barreira no mercado externo, algo que resultaria em nova onda vendedora. Certamente essa história continua válida hoje.

No mercado de juros futuros, a volatilidade continua grande. Ontem, a curva começou o dia em alta, apontou para baixo e fechou praticamente estável. Com tamanha indefinição, a única coisa que se pode afirmar com algum grau de certeza é que o mercado continua atribuindo maior probabilidade de alta de meio ponto percentual na Selic no encontro do dia 20 de abril do Comitê de Política Monetária (Copom) (veja gráfico abaixo).

Os agentes também operaram na expectativa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, que será apresentado agora pela manhã. As estimativas sugerem inflação oficial ao redor de 0,70%, recuando de 0,80%.

Eduardo Campos é repórter

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