FMI aponta risco de superaquecimento

Autor(es): Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo - 16/04/2011

Fundo alerta que a inflação ameaça o Brasil e outros países latino-americanos e diz que é cedo para avaliar o efeito das medidas do Banco Central

- O Estado de S.Paulo

Superaquecimento e inflação ameaçam o Brasil e outros países latino-americanos, adverte o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo brasileiro já reagiu e o Banco Central aumentou os juros, tentando manter a inflação dentro da meta, mas é cedo para prever resultados, disse ontem o diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo, o ex-ministro de Finanças do Chile Nicolás Eyzaguirre.

Parte do desafio é conter os efeitos secundários da alta das cotações do petróleo e dos alimentos - o contágio dos demais preços. Eyzaguirre descreveu o aumento dessas cotações como um duplo vento de cauda, bom para as contas externas dos países exportadores, mas perigoso como fator inflacionário, especialmente nas economias mais pobres.

Esses preços deverão permanecer muito altos por longo tempo, especialmente por causa da forte procura de matérias-primas pelas economias da Ásia. Ao mesmo tempo, o financiamento internacional continuará barato, por causa do baixo nível de atividade e da política monetária frouxa nas economias avançadas.

A economia da América Latina e do Caribe cresceu 6,5% no ano passado e deve crescer 4,75% neste ano, mas a expansão permanece acima do ritmo sustentável em vários países, segundo os técnicos do FMI. Brasil e alguns outros países funcionam com plena capacidade, afirmou Eyzaguirre. A demanda externa tem crescido rapidamente, impulsionada pelas condições externas favoráveis e também por politicas fiscais e monetárias estimulantes.

Déficits. Sinais de superaquecimento aparecem na inflação em alta, nos déficits em conta corrente, na expansão do crédito e no aumento de preços de alguns ativos, já com jeito de bolha, em alguns casos, segundo o economista.

Além disso, empresas têm aumentado sua alavancagem, com o recurso crescente à tomada de empréstimos. A busca de financiamentos em moeda estrangeira tem também aumentado a exposição a riscos externos (uma advertência já formulada por autoridades brasileiras).

Os déficits na conta corrente do balanço de pagamentos têm crescido também nos países beneficiados, como o Brasil, pela valorização das matérias-primas.

Os déficits ainda não são excessivos, mas é bom conter o seu crescimento e a disciplina fiscal pode ser útil também para isso, comentou Eyzaguirre.

O FMI projeta para o Brasil um déficit em conta corrente igual a 2,6% do PIB neste ano, 3% no próximo e 3,6% em 2016. Não há sinal de risco a curto prazo, nem haverá problema enquanto entrar investimento estrangeiro e a relação entre preços de exportação e de importação for favorável, disse o economista David Vegara, do mesmo departamento, sem dar maior importância à tendência apontada pelo próprio Fundo.

Para toda a região, a mensagem principal, insistiu Eyzaguirre, é uma advertência para o risco de superaquecimento e a melhor maneira de iniciar uma ação corretiva, segundo sua receita, é cuidar das contas públicas. A política fiscal, segundo ele, é parte substancial do quadro de inflação, depois do grande aumento do gasto público em 2009 e 2010, e é tempo de apertar as políticas.

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