Baixar alíquotas de importação após elevá-las não faz sentido, diz FGV

Não há grande evidência de pressão de preços de produtos industriais nos Índices Gerais de Preços (IGPs) após a elevação da alíquota de importação para uma lista de mais de cem itens em outubro, disse nesta quarta-feira Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV).


Mas o governo, na opinião de Quadros, causa instabilidade ao anunciar que pode retirar essa medida diante de possíveis altas inflacionárias, considerou. “O que estava por trás dessa medida não era a questão inflacionária, era a defesa de mercado. O empresário pode ter ficado mais forte e até aumentado seu preço, mas não percebemos abuso nenhum”, disse.
Em entrevista exclusiva ao Valor PRO, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que o governo vai reduzir tarifas de importação de produtos industriais que tiveram suas alíquotas elevadas no ano passado, sem especificar, no entanto, quais seriam esses insumos. Entre alguns dos produtos na lista de mais de cem que tiveram suas alíquotas elevadas, estão ferro e aço, resinas plásticas, papel e materiais elétricos.
Segundo Quadros, quando o governo toma uma medida com um determinado objetivo, há sempre um efeito colateral, mas não faria sentido voltar atrás no aumento de alíquotas devido a esse efeito secundário.
“O objetivo principal dessa política continua sendo necessário. Se você tem um instrumento só, é preciso priorizá-lo”, comentou o economista da FGV. 
Quadros afirmou que pode haver “um produto ou outro” com aumento de alíquotas de importação cujos preços subiram nos IGPs, mas a alta não necessariamente está relacionada a essa medida.
“Todos os insumos da indústria química e siderúrgica são commodities”. Na passagem de janeiro para fevereiro, os bens intermediários, que compõem o IPA industrial, avançaram de 0,29% para 0,73%, puxados principalmente pelo reajuste de combustíveis da Petrobras. O item combustíveis e lubrificantes para produção deixou queda de 0,27% para alta de 4,48% no período.
Já o subgrupo materiais e componentes para manufatura, no qual, segundo Quadros, estão grande parte dos insumos industriais, desacelerou de 0,36% pra 0,08% na passagem mensal, influenciado por queda de 7,97% do farelo de soja, ante recuo de 3,56% no mês anterior.
Segundo Quadros, como a tendência é que esse insumo diminua sua deflação, em linha com o movimento do grão, os materiais e componentes para manufatura devem subir um pouco mais em março.
“Talvez também tenha algum impacto do aço”, disse, diante do anúncio de reajustes por parte das siderúrgicas.
Arícia Martins / Valor Econômico