Planalto orienta Mantega a falar só de grandes temas econômicos

NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo


Para tentar sair da berlinda, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem sido aconselhado a cuidar apenas dos grandes temas da agenda econômica. A orientação vem do Palácio do Planalto.

Integrantes do governo têm dito que ele precisa se preservar mais, até submergir, e tentar resgatar a credibilidade em sua pasta.

Nas palavras de um interlocutor presidencial, Mantega precisa deixar de ser "o ministro da desoneração da folha de pagamento de papel de parede", um dos setores agraciados com a medida. Precisa ser o chefe "das grandes ações", o que dá a diretriz da política econômica.
Nos últimos meses, o governo tem sido criticado por agentes de mercado, setor privado e pela imprensa internacional, até pouco tempo atrás uma entusiasta da política econômica tocada pelo ministro. Ele, aliás, sempre comemorava o tom amistoso dos órgãos de mídia lá fora toda vez que algum veículo doméstico o atacava.

Em dezembro, porém, esse humor começou a mudar. Em um artigo intitulado "Um colapso da confiança", a revista "The Economist" pediu a demissão de Mantega por previsões erradas sobre o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) em 2012.

Em junho do ano passado, ele chegara a chamar de "piada" uma projeção de 1,5% feita por economistas do Credit Suisse. "É uma piada. Vai ser muito mais que isso."

A desconfiança se acentuou à medida que o PIB "piada" foi se confirmando. A prévia do PIB apurada pelo Banco Central apontou para um crescimento de 1,6% no ano passado. O dado é considerado otimista. A expectativa é que o PIB calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) fique próximo de 1%.

Ainda no ano passado, o ministro declarou que a inflação em 2013 não seria uma preocupação. A avaliação foi recentemente alterada pelo próprio Mantega. Ele sinalizou que o BC pode aumentar os juros para controlar a pressão nos preços.

Outro golpe veio após a manobra fiscal feita pelo Tesouro Nacional para fechar as contas de 2012.

Internamente, espera-se que um desempenho melhor do PIB em 2013 neutralize essa resistência. Mas isso só será obtido, afirmam assessores do governo, se ele conseguir "deixar o varejo e passar a falar só no atacado".

RAIO-X GUIDO MANTEGA
  • Formado em economia e doutor em sociologia do desenvolvimento
  • Foi diretor de orçamento e chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Planejamento de São Paulo de 1989 a 1992
  • Assumiu o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão de 2003 a 2004
  • Foi presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) até 2006.
  • É o ministro da Fazenda desde 2006, ainda sob o governo Lula