Exportação à Argentina dá salto, mas cenário preocupa

Autor(es): Por Sergio Leo | De Brasília
Valor Econômico - 24/05/2013

Surpresa no comércio com a Argentina: as exportações brasileiras para o vizinho do Mercosul, que vinham caindo seguidamente, tiveram forte aumento em abril, de 31%. O principal responsável por esse crescimento foi o setor de veículos, incluindo tratores e partes automotivas, cujas vendas aumentaram 49% em comparação com o mesmo mês do ano passado.
Houve, por parte dos argentinos, uma diminuição das barreiras informais à importação. Em setores como os de calçados e têxteis, as associações industriais não registram mais queixas de retenção de embarques nas alfândegas, como chegou a ser frequente. Executivos dessas áreas comentam, porém, que a imprevisibilidade da política comercial argentina desestimula os negócios com o país vizinho, onde os importadores ainda estão sujeitos a restrições informais. Há, por exemplo, o esquema "uno por uno", pelo qual importadores argentinos só recebem licença para comprar bens no exterior se comprovarem exportações no mesmo valor.

O país vive uma crise política e enfrenta dificuldades econômicas, com o aumento das pressões inflacionárias e forte avanço nas cotações do dólar no mercado paralelo. Por isso, analistas e empresários brasileiros temem que a crise no país vizinho possa impedir a continuidade dessa recuperação no comércio bilateral.Parte da recuperação das exportações em abril decorre de um ligeiro aumento na demanda de alguns produtos, como calçados, e uma forte procura por automóveis. Alguns especialistas suspeitam que os carros estejam servindo de reserva de valor contra a escalada da inflação. A expectativa de menor necessidade de divisas neste ano também levou a Argentina a afrouxar o controle sobre a entrada de mercadorias. As importações gerais do país cresceram 32%.
Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, "o cenário não é bom", porque as perspectivas para as exportações da Argentina são de queda, em razão da redução nos preços da soja e do milho. "Como já se fala na necessidade de um superávit de US$ 11 bilhões, a alternativa será reduzir as importações", prevê Castro.