BANCOS APOSTAM EM AUMENTO DO CRÉDITO PARA EXPORTADORES


A demanda de crédito para exportação cresce em ritmo lento em 2010. O volume de crédito para exportação cresceu apenas 2,9% este ano e o saldo da carteira alcançou R$ 30,92 bilhões, contra R$ 30,05 bilhões registrados ao final de 2009. Os dados são do relatório de Operações de Crédito do Sistema Financeiro divulgado ontem pelo Banco Central (BC).

"Há abundância de recursos captados no exterior para financiar as exportações brasileiras neste ano. Temos recursos para apoiar e irrigar o comércio exterior", afirma o diretor da Área Internacional e Comércio Exterior do Banco do Brasil, Admilson Monteiro Garcia.

Ou seja, se não há problemas de escassez de crédito, o relatório do BC mostra que os exportadores estão pouco animados para tomar crédito. As concessões de Antecipação de Contratos de Câmbio (ACC) cresceram apenas 1,7% em 2010, de R$ 4,93 bilhões para R$ 5,01 bilhões.

Na ponta contrária, as concessões de financiamento de importações cresceram 43,3% nos primeiros meses do ano, de R$ 1,38 bilhão para R$ 1,98 bilhão em agosto e acumularam R$ 13,10 bilhões em carteira.

De acordo com o relatório do BC, o prazo médio do vencimento das ACCs até subiu de 119 dias em janeiro para 130 dias corridos em agosto, aumentando o tempo para o exportador honrar com seus compromissos.

E a inadimplência dos ACCs caiu ainda mais. Nos atrasos entre entre 15 e 90 dias, caiu de 1,3% em janeiro para 0,8% em agosto. No critério de prazo superior a 90 dias, caiu de 1,9% em janeiro para 0,7% em agosto.

Apesar da inadimplência ter recuado, as taxas se mantiveram estáveis. O spread cobrado pelos bancos até caiu de 4,4% em janeiro para 3,8% em agosto, mas a taxa de captação subiu de 9,2% para 10,6% no mesmo período. Como resultado, as taxas cobradas dos exportadores subiram de 13,6% de juros ao ano para 14,4% ao ano, ao final de agosto.

Quanto aos riscos a que os exportadores estão expostos, os analistas avaliam que no cenário médio de 130 dias não haverá sobressaltos. "O câmbio está bem estável. Os riscos são bem pequenos", avalia o professor de economia da ESPM, José Eduardo Amato Balian.

"Vamos aguardar as medidas do governo para incentivar as exportações", espera Balian sobre as perspectivas de mudança para o próximo ano.
Balian explica a diferença entre o fraco crescimento dos financiamentos a exportação e o aumento de 28% no valor das exportações em dólar.

"Os preços em dólares subiram muito, especialmente das commodities. Os exportadores estão conseguindo repassar esses aumentos", argumenta Balian.

De fato, Banco do Brasil e Bradesco apontam que houve crescimento do volume em dólar comparáveis ao crescimento de exportações e também ao de 40% das importações.

"Estamos crescendo na mesma dinâmica do mercado. A carteira de ACC atingiu US$ 3,5 bilhões e a carteira de pagamentos de moeda estrangeira de longo prazo alcançou US$ 5 bilhões até agosto", informou ao DCI, a diretora do Departamento de Câmbio do Bradesco, Marlene Millan.

Segundo Millan, o Bradesco possui cerca de 20% de participação na distribuição de ACCs. Seu concorrente Banco do Brasil (BB) informa participação de 32,5% nesse critério e vê crescimento semelhante em dólares.

"Nossa carteira de ACC e ACE cresceu 18,8% nos oito primeiros meses do ano e acumulou US$ 12,9 bilhões", afirmou Admilson Monteiro Garcia, do BB.

O diretor forneceu dados que apontam a predominância de produtos básicos (40%) e semi manufaturados (20%) na pauta das exportações.

Segundo Garcia, o agronegócio de origem vegetal (grãos e outros alimentos) demandou 2,4 mil operações e US$ 2,4 bilhões em financiamento, seguido pelos setores de metalurgia e minerais em segundo, e pelo setor de agronegócio de origem animal (carne e laticínios) na terceira posição de demanda de recursos.

Depois dos primários, a ordem de preferência por recursos vem dos setores: petróleo; couro e calçados; madeireiro e moveleiro; siderurgia e construção civil.