Ameaças brasileiras surtiram efeito

Argentina também endureceu com a China e com isso o Brasil voltou a ganhar espaço no país vizinho
Foram meses de brigas e reclamações dos dois lados. Mas as ameaças e retaliações do Brasil funcionaram. A Argentina aliviou as barreiras contra os produtos brasileiros e endureceu com a China. O resultado é que o Brasil voltou a ganhar espaço no mercado vizinho em setores como calçados, autopeças, químicos e têxteis.

Esses produtos ainda sofrem com as licenças de importação, instrumento adotado pela Argentina em 2009 para controlar a entrada de importados depois que a crise global atingiu o país. "As licenças continuam, mas sua administração se tornou mais flexível", diz o economista da Abeceb.com, Maurício Claveri.

A participação do Brasil nas importações argentinas de calçados subiu de 44% no primeiro semestre de 2009 para 51% no primeiro semestre deste ano. Na mesma comparação, a fatia da China caiu de 39% para 23%. Os chineses estão quase fora do mercado após a aplicação de uma taxa antidumping.

"Não temos mais problemas com o atraso de licenças, mas poderíamos estar vendendo mais", disse o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Calçadista (Abicalçados), Heitor Klein. As vendas brasileiras estão limitadas a uma cota de 15 milhões de pares. Em 2000, o Brasil chegou a vender 25 milhões de pares no vizinho.

Nos outros setores, a movimentação foi sutil, mas também ocorreu. Em têxteis e confecção, o Brasil avançou de 27% para 29%, enquanto a China caiu de 30% para 29%. "As licenças de importação ainda são concedidas com irregularidade, mas pelo menos estão sendo liberadas", conta o consultor da Associação Brasileira da Indústria (Abit), Domingos Mosca.

O diretor da IES Consultores, Alejandro Ovando, explica que o governo argentino precisou flexibilizar os freios para as importações porque a economia cresce tão rápido que os empresários locais não dão conta da demanda. "Esse é um dos motivos da alta inflação na Argentina."

Tendência. O avanço dos exportadores brasileiros no mercado argentino, no entanto, pode ter sido um ponto fora da curva. Até este ano, o Brasil vinha perdendo mercado consistentemente para a China na Argentina. Em 2003, o Brasil respondia por 79% dos calçados e 57% dos tecidos e roupas importadas pela Argentina. Já a China tinha uma participação de 13% e 2%, respectivamente, do mercado vizinho naquela época.

Fonte: Estadão.com.br