Contrabando em Cumbica pode ter desviado mais de 50 milhões de reais

Esquema de fraude investigado na Operação Trem Fantasma tem ramificações em Miami. Entre os presos estão auditores da Receita Federal e do Tesouro Nacional.

Em Miami, de onde partiam notebooks, monitores e equipamentos médicos (da China vinham celulares), a agência aduaneira americana constatou que as declarações de embarque eram subfaturadas.

O esquema de fraude fiscal e contrabando descoberto pela Polícia Federal no Aeroporto Internacional de São Paulo pode ser maior do que os inicialmente estimados 50 milhões de reais em impostos desviados. Nos imóveis revistados de três auditores da Receita Federal e de um despachante aduaneiro detidos na Operação Trem Fantasma, na terça-feira (9), foram recolhidos mais de um milhão de dólares e cem mil reais. A alta soma indicaria que mais de um esquema criminoso estaria em andamento nos galpões do aeroporto. A suspeita é do delegado federal Edgar Paulo Marcon, encarregado regional do combate ao crime.

A operação policial prendeu 23 pessoas e foi executada com apoio da Receita, da Interpol e da Agência Aduaneira americana (ICE). O bando contrabandeava produtos eletrônicos e hospitalares da China e de Miami. Entre os detidos estão cinco auditores fiscais da Receita Federal – incluindo o chefe de trânsito aduaneiro do aeroporto, Francisco Plauto Moreira –, três auditores do Tesouro Nacional, dois policiais federais e mais 17 funcionários de companhias aéreas, empresas de segurança, despachantes e empresários.

A quadrilha começou a ser exposta quando funcionários honestos da Receita cruzaram informações e constataram que os valores, pesos e fretes dos produtos que entravam não conferiam com aqueles que saíam. Em alguns casos, o contrabando era declarado como mercadoria “em trânsito” – que nunca chegava ao destino. Uma vez por semana um caminhão entrava na área restrita do terminal e retirava o contrabando. Nas declarações, em vez de celulares, notebooks, monitores de alta definição e equipamentos médicos, eram declarados produtos de baixo valor, como gabinetes para microcomputadores e acessórios de informática. Estima-se que, nos últimos doze meses, o esquema internalizou mais de 80 toneladas de mercadorias no país, causando um prejuízo de mais de 50 milhões de reais aos cofres públicos.

Os primeiros suspeitos detidos foram um policial federal e um delegado federal aposentado do Rio de Janeiro. Cada um deles transportava quase dois mil celulares contrabandeados da China. Eles pretendiam vender os aparelhos no Rio de Janeiro. A investigação conduzida pelo delegado Vladimir Schinkarew constatou, então, que a empresa envolvida era de fachada. Parte das mercadorias ia parar em lojas de eletrônicos na Galeria Pajé, no centro de São Paulo. Há suspeita de que outra parte ia para nas mãos de gente comum que se arriscou comprando produtos contrabandeados. Assim que tiver os nomes, a Receita pretende abrir novas investigações.

Em Miami, de onde partiam notebooks, monitores e equipamentos médicos (da China vinham celulares), a agência aduaneira americana constatou que as declarações de embarque eram subfaturadas. O grupo também usava um esquema de internet do tipo “compre com endereço nos Estados Unidos”. O depósito da empresa, que não teve o nome informado, foi vistoriado.

Fonte: Revista Veja