BC anuncia medida para conter queda do dólar

Bancos terão de fazer reserva para valores acima de R$ 5 bi em dólares na carteira

O Banco Central anunciou nesta quinta-feira (6) novas medidas para conter a valorização do real. De acordo com circular publicada hoje, os bancos deverão recolher como compulsório (depósito obrigatório que deve ser recolhido pelo Banco Central como garantia de operações) 60% do valor da posição de câmbio vendida que passar de R$ 5 bilhões (US$ 3 bilhões) ou o patrimônio de referência da instituição (o que for menor).

O conceito de posição de câmbio funciona da seguinte maneira: digamos que um banco começa a operar hoje e não tem dólar na carteira. Um exportador vende US$ 100 para o banco e este fica, portanto, na chamada “posição comprada”. Depois chega um importador para comprar US$ 200. O banco então vende os US$ 100 que tinha em carteira e empresta outros US$ 100 (tomados em outro banco); ele fica, assim, na chamada “posição vendida” – ou seja, fica com uma dívida de US$ 100 pelo empréstimo.

Isso quer dizer que os bancos que estão na “posição vendida”, terão, no futuro, que entregar o dólar que foi vendido ou a variação cambial. Ou seja, estes bancos estão apostando que o dólar vai se desvalorizar, porque, se isso acontecer, na hora da pagar pelo dólar eles pagarão um valor menor em real do que o que foi entregue ao cliente. Seguindo a mesma lógica estar “comprado” sinaliza a expectativa de valorização do dólar.

Já o patrimônio de referência dos bancos é quanto o banco ‘vale’. O conceito é usado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para estabelecer os limites de crédito que devem ser seguidos por todas as instituições financeiras e fiscalizados pelo BC.

Os bancos terão 90 dias para se adequar à medida anunciada hoje, que vale, portanto, a partir de 4 de abril. O depósito compulsório recolhido junto ao BC será em real e não será remunerado.

Com a medida, o BC espera que os bancos que estão na posição vendida passem a ficar comprados. A maior procura pela moeda pressionará o seu preço para cima.

Exportação

A preocupação do governo com a valorização do real frente ao dólar se dá pelo seguinte: com o real valorizado, e, portanto, o dólar barato, os produtos brasileiros perdem a competitividade no mercado internacional – ou seja, ficam mais caros que os produtos similares vendidos por outros países.

Isso é ruim no curto prazo, porque leva a uma queda de empregos na indústria exportadora, e no longo prazo, porque o Brasil perde mercados que levou anos para conquistar.

Outro problema é que os produtos importados ficam mais baratos para os brasileiros, e com isso, invadem as prateleiras. A indústria brasileira é novamente afetada, pois os produtos brasileiros perdem competitividade também aqui dentro.

Mantega

Na terça-feira (3), o ministro da Fazenda, Guido Mantega já havia se pronunciado sobre o dólar -apesar de não ter tomado nenhuma medida efetiva- em uma tentativa de acalmar os mercados após o dólar chegar a R$ 1,65.

O pronunciamento de Mantega, no entanto, não teve impacto no valor da moeda, que fechou nesta quarta-feira (5) cotada a R$ 1,67.

O movimento de desvalorização do dólar, que ocorre no mundo todo, e não somente no Brasil, se intensificou no país nos primeiros dias de 2011, com valorização do real relação ao dólar. Já na primeira segunda-feira do ano (3), a moeda americana fechou a R$ 1,65 - o menor valor desde 1º de setembro de 2008, antes da explosão da crise financeira internacional.

Fonte: R7