Custo Brasil faz Unigel investir no México

Autores: Maurício Godoi | Caio Luiz
Fonte: DCI

São Paulo - O custo da matéria-prima para o setor químico e petroquímico no Brasil foi um dos principais motivos que levaram a Unigel a optar por um investimento que pode alcançar a cifra de US$ 400 milhões, no México. Um dos sócios da companhia comandada pelos Slezynger poderá ser a petrolífera mexicana Pemex, que fornecerá amônia e gás natural para a fabricação de 100 mil toneladas de metacrilato e outras 50 mil toneladas de cianeto.

Segundo o presidente da Unigel, Henri Slezynger, o preço do insumo básico para a produção desses dois produtos foi crucial para a definição do investimento. Segundo o executivo, que assumiu recentemente a presidência do Conselho Diretor da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o preço da molécula da matéria-prima no Brasil está cerca de três vezes mais alto que o equivalente no chamado Mercado do Golfo, que inclui México e Estados Unidos.

"Pagamos em média aqui no Brasil de US$ 12 a US$ 15 o milhão de BTU do gás natural. Na Bahia, onde temos a outra fábrica de metacrilato, o custo chega a US$ 19. O valor desse mesmo volume de gás naquela região da América do Norte está em US$ 4, o que traz competitividade ao nosso produto", argumentou Slezynger. "Essa fábrica poderia, sim, ter sido instalada no Brasil, mas para competirmos com as gigantes desse setor, a Dow e a Evonik, temos de equiparar os custos da matéria prima básica", disparou.

Com esse investimento a empresa somará uma produção de 225 mil toneladas de metacrilato, que elevará à quarta posição entre as maiores produtoras do mundo. Atualmente, nas contas do executivo, a Unigel é a quinta colocada no mundo e a única para esse produto na América Latina. Possui uma unidade de 100 mil toneladas na Bahia e outra no México para 25 mil toneladas.

O metacrilato é um produto da cadeia dos acrílicos que é utilizado para a fabricação de telas LED e LCD. "Em 2010 foram produzidas 40 milhões de televisores do tipo LED no mundo, neste ano acredito que esse volume alcance 80 milhões e em 2012 suba mais ainda, para 150 milhões de unidades", estimou. A produção na futura unidade do México será direcionada para o mercado internacional. Isso elevará o faturamento, naquele país, de um patamar de US$ 200 milhões registrados no ano passado para até US$ 600 milhões, valor preliminar, ressaltou o executivo. Enquanto a fábrica não fica pronta, no Brasil a Unigel, que tem Marc Slezynger como vice-presidente e executivo mais ligado às finanças da companhia, estima que este ano a receita alcance US$ 2,4 bilhões ante os US$ 2 bilhões registrados no ano passado.

Movimento

Essa mudança de rota é um exemplo claro da opção das empresas por migrar os recursos para o exterior em busca de maior competitividade pelos seus produtos. Justamente ontem, foi realizado um evento em São Paulo para discutir a desindustrialização do Brasil. Reuniram-se representantes do setor produtivo, sindicatos e até mesmo do governo federal, como o vice-presidente Michel Temer, que ouviu as reivindicações de ambas as partes e prometeu levar as propostas contidas no documento entregue a ele durante o encontro.

O setor industrial decidiu colocar o governo na parede e colocou 32 pontos de extrema urgência para salvar o setor industrial brasileiro do processo de fuga de capital produtivo. A meta é inverter esse processo de perda de relevância para a economia nacional, que vem se acelerando na última década com o real depreciado ante o dólar e com as altas taxas de juros básicos na economia.

O primeiro ponto a ser exigido foi a adoção de uma política industrial ampla. Fazem parte desse documento, adoção de instrumentos de financiamentos públicos e desoneração tributária; aprimoramento institucional ao fortalecer o BNDES e o Finep, além de instituições de coordenação do PDP; ampliação do investimento fixo com a redução do custo de crédito, facilitamento de acesso a esse crédito para empresas de todos os portes, ampliar e operacionalizar a utilização dos mecanismos de garantia de seguro de crédito, adequar e desenvolver produtos de financiamento ao produtor. O setor apresentou ações para desenvolvimento industrial regional e de renascimento do setor produtivo nacional ao exigir a adoção do conceito de conteúdo nacional como diretriz de política industrial, garantindo que as políticas públicas tenham efeitos exclusivamente para a indústria nacional.

Outra proposta recebida foi a exigência de utilização de matérias-primas produzidas localmente; busca pela exportação de produtos manufaturados, substituindo importação de produtos de maior valor; compatiblizar regulação e normatização setorial com objetivos de política industrial, estabelecendo normas e processos com a promoção da indústria, instância de coordenação entre a política industrial e a setorial; e agências reguladoras.

Já na frente de atuação no comércio exterior, querem a criação canais formais de diálogo e negociação entre governo e representações empresariais e de trabalhadores; incluir nas missões institucionais ao exterior a participação de representantes de empresários e trabalhadores e estímulo a promoção comercial por meio de projetos setoriais da Apex. Para a competitividade do comércio exterior: financiamento para produtos manufaturados; eliminar a prática de especulação com linhas de refinanciamento à importação de bens de consumo; simplificação da legislação de comércio exterior, entre outros.

Para derrubar as barreiras às exportações o setor quer do governo: a identificação e redução das barreiras tarifárias e não tarifárias (técnicas, sanitárias e fitossanitárias) às exportações. Na defesa comercial, fortalecer a estrutura do departamento de defesa nacional (Decom) do MDIC, assegurando os recursos humanos e materiais necessários; implementar a abertura e aplicação de medidas de defesa comercial com fundamento em ameaça.

A China ganhou um capítulo à parte. Para o gigante asiático, o setor industrial exige manter o tratamento como economia que não opera em condições predominantes de mercado; aplicar salvaguardas transitórias para produtos específicos, conforme permitido pelo Protocolo de Acessão da China à Organização Mundial do Comércio.

Todas essas ações são acompanhadas por medidas de fiscalização que incluem: incrementar a eficácia do controle aduaneiro pela Receita Federal, por meio da melhoria da infraestrutura fiscalizatória; aumentar o percentual de produtos efetivamente fiscalizados por meio de análise documental e física.

E ainda, agilizar a aprovação de lei que dispõe sobre a importação e o fornecimento de produtos sujeitos à regulamentação técnico federal e divulgar as estatísticas de comércio exterior.

2.257petroquímica

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