Ritmo do fluxo cambial realimenta crédito

Autor(es): Fernando Travaglini | De Brasília
Valor Econômico - 19/05/2011

Depois de registrar um movimento fraco em abril, com entrada líquida de pouco mais de US$ 1,5 bilhão, o fluxo de entrada de dólares no país voltou a apresentar um ritmo bastante forte em maio. Captações de empresas e bancos no exterior, aplicações de estrangeiros e a decisão de exportadores de deixar dólares no Brasil contribuíram para uma movimentação líquida, até o dia 13, de US$ 8,809 bilhões.

O número preocupa o governo, que adotou medidas nos últimos meses para tentar desencorajar a entrada de dólares. Na avaliação das autoridades, fluxos nesses níveis apreciam a taxa de câmbio e alimentam o crédito doméstico, o que, por sua vez, dificulta a política anti-inflacionária do Banco Central (BC).

A média diária de entrada de dólares em maior foi de US$ 880 milhões, um volume superior ao registrado em janeiro, quando o saldo cambial bateu recorde (US$ 15,513 bilhoes). No ano, o saldo já é de US$ 45,943 bilhões, também o maior valor da série para o período.

A maior parcela da enxurrada de dólares - US$ 4,559 bilhões - que entrou em maio decorre da conta financeira. São recursos direcionados para aplicações financeiras e empréstimos bancários. Muitas empresas e bancos registraram também emissões de títulos no exterior nesse período. Foram US$ 17,321 bilhões em contratos de compra (entrada) e US$ 12,763 bilhões em contratos de venda (saída).

No mês, o resultado das operações comerciais também foi extremamente elevado, atingindo US$ 4,241 bilhões, o maior valor em três anos. O resultado é fruto de US$ 11,082 bilhões em contratos de exportação. Já os valores dos contratos de importação retiraram do mercado doméstico US$ 6,831 bilhões.

Uma parte importante desse fluxo tem sido atraída por bancos que operam no país. Eles aproveitam as taxas de juros baixas do exterior para captar recursos e emprestá-los a companhias brasileiras. Esse é um dos pontos de preocupação do BC, que tenta controlar a demanda por meio da moderação do crédito, entre outros instrumentos.

Entre janeiro e março, o balanço de pagamentos registrou saldo positivo de US$ 35 bilhões, valor equivalente a mais de 10% das reservas internacionais. Como em abril o saldo cambial caiu drasticamente - para US$ 1,5 bilhão -, o governo imaginou que os fluxos estariam recuando e não voltariam mais aos níveis observados no primeiro trimestre. Nas duas primeiras semanas de maio, no entanto, o quadro mudou inteiramente.

A avaliação oficial é que esse forte ingresso de dólares desfaz o trabalho que o governo vem conduzindo para conter a inflação. Não adianta ao BC, explicam fontes oficiais, elevar a taxa de juros para desestimular o aumento do crédito, decorrente da entrada de dólares, porque essa decisão torna o Brasil ainda mais atrativo para os investidores.

O BC também avalia que esse fluxo pode se reverter no futuro e, eventualmente, repetir os problemas enfrentados pelas empresas em 2008. Um fator que pode mudar a direção dos fluxos é a política monetária dos Estados Unidos. No caso de um aumento de juros lá, parte dos recursos pode voltar para os países desenvolvidos. A ata da última reunião do Federal Reserve, o BC dos EUA, sinalizou alta de juros ainda este ano.

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