Os tigres colaram na China

Autor(es): Sílvio Ribas
Correio Braziliense - 23/05/2011

Economias emergentes da Ásia abandonam o estagnado Japão e atrelam seu destino ao novo motor do crescimento do PIB mundial

Mais de uma década depois de seu modelo de crescimento inspirado pelo Japão naufragar, os Tigres Asiáticos se engatam à locomotiva chinesa para trilhar um novo caminho de crescimento, sustentado, desta vez, pelo comércio com outros grandes mercados emergentes. Coreia do Sul, Cingapura, Hong Kong e Taiwan se descolaram dos japoneses, que enfrentam anos a fio de estagnação, para se atrelar à segunda maior economia do mundo. Esse grupo de nações ainda promissoras apresenta expansão média de 4%, menos da metade das taxas de China e da Índia. A volta aos espetaculares índices de expansão registrados no fim do século passado continua limitada a uma histórica dependência das vendas externas, prejudicadas após a crise global.


Além de se beneficiar das trocas comerciais com a China, os tigres começaram a repetir seu comportamento controverso na arena mundial. “A novidade é que os Tigres Asiáticos passaram a adotar, nos últimos anos, as práticas de comércio desleais largamente usadas pela China”, comenta Josefina Guedes, consultora de comércio internacional. Ela explica que os quatro têm peculiaridades, a exemplo da agressividade das marcas próprias de Coreia e Taiwan no mercado externo. Apesar disso, “todos reagiram juntos à onda protecionista pós-crise de 2008 e estão sintonizados com o dragão chinês”.

Os tigres ampliaram as trocas comerciais e a articulação produtiva com a China. O objetivo é manter a atividade das fábricas em nível elevado e aproveitar a ascensão dos novos consumidores. “Tal qual os norte-americanos e diferentemente dos japoneses, os chineses não têm compromissos com a economia mundial. Para atingir seus alvos, lançam mão de fraudes e dumping”, afirma Josefina. Ela lembra que, como gigantescos entrepostos, Cingapura e outros países asiáticos ajudam Pequim a driblar barreiras erigidas pelos competidores.

Crise asiática
Somadas, as economias dos quatro correspondem ao tamanho da brasileira, com um Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas geradas) de US$ 2,2 trilhões. Mas as semelhanças com o líder da América do Sul acabam aí. Os tempos mudaram. Até os anos 1990, os tigres representavam o melhor exemplo de economias emergentes. Os frutos de seu espetacular desempenho comercial, influenciado pelo sucesso japonês, acabaram sucumbindo à crise asiática, de julho de 1997, que derrubou bolsas de valores mundo afora. Em menos de um ano, investidores sacaram US$ 200 bilhões aplicados na Ásia, levando à quebradeira generalizada de empresas e à recessão.

A China foi a única a passar ilesa ao primeiro grande abalo da globalização, quando se acelerava a maior abertura econômica da história. Apesar do colapso, a renda per capita na Ásia pulou de US$ 424 para mais de US$ 1 mil entre 1990 e 2004. Guiados hoje pelo farol chinês, esses territórios e países tentam ampliar presença no comércio global com venda crescente de artigos industrializados baratos e de alta tecnologia. Dois deles têm laços históricos com a China: depois de um período de domínio inglês, Hong Kong é hoje parte do gigante asiático, mas mantém instituições políticas e econômicas capitalistas. Taiwan é tida pelo governo chinês como uma província rebelde.

Educação
A expressão “tigre” já foi sinônimo de economia regional com crescimento acelerado e voltada à exportação. Com mão de obra qualificada e barata, excelente infraestrutura logística de portos e capacidade de produzir quase todo tipo de artigo industrializado para exportar, sua força é proporcional à demanda externa. Os integrantes da grife oferecem incentivos fiscais a multinacionais, mas ainda deixam de apostar no consumo doméstico. Outro ponto em comum está na prioridade à educação como meio de aumentar a produtividade, fato sempre destacado em estudos e fóruns internacionais.

Para Claudio Dedecca, professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os Tigres Asiáticos e o Japão formam um retrato superado pelas novas tendências. A persistente estagnação japonesa revela limitações do consumo interno e a necessidade de importar quase todos os produtos básicos. Ele explica que, nos anos 1960 e 1970, o pensamento econômico do mundo celebrava o mercado interno, mudando o foco nas duas décadas seguintes para o externo. “O fato novo é que a prática mostrou que a expansão se dá, agora, pela conjugação de inserção no mercado global com fortalecimento da demanda doméstica”, resume. O saldo positivo deixado pelos tigres foi, na sua opinião, o controle da inflação e o acesso universal a bens de consumo.

Hong Kong tem localização geográfica estratégica, a meio caminho entre Japão, Coreia do Sul e Cingapura, na principal rota marítima da região. Cingapura, por sua vez, é chamada por analistas de a provável ponte entre o crescente comércio entre Índia e China.

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