Dólar em baixa, lucro em alta

Autor(es): Cristiano Zaia
Isto é Dinheiro - 16/05/2011

Como as grandes empresas aproveitam a valorização do real para ganhar mercado e aumentar a competitividade

A indústria brasileira reclama dos efeitos nocivos do real valorizado que, a priori, dificulta as exportações e toma o mercado doméstico dos fabricantes nacionais. Mas alguns setores, que demandam importações, estão surfando na onda do dólar a R$ 1,60 – no início de 2010 ele valia R$ 1,89.

Empresas de varejo de importados e fabricantes nacionais, que dependem de fornecedores estrangeiros, comemoram o aumento de vendas e receitas em decorrência da desvalorização da moeda americana. “O dólar mais barato produz um efeito positivo para o comércio, que com preços menores aumenta suas vendas”, diz o economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Um levantamento da CNC mostra que, em 2010, a venda de importados no comércio cresceu 23%, proporção quase três vezes maior do que a da expansão de vendas dos produtos nacionais, de 8%. Neste ano, as importações cresceram 27,1% até abril, na comparação com igual período de 2010.

A maior presença dos itens importados nas prateleiras é visível a olho nu. Na rede de supermercados Pão de Açúcar, a redução dos preços, provocada pelo dólar mais barato, fez com que os importados ganhassem mais espaço e aumentassem sua participação no faturamento.

No ano passado, a venda de importados aumentou 30%, acima da alta geral do faturamento da empresa, de 27,5% na rede, garantindo ainda uma maior diversificação de produtos. “Além dos tradicionais queijos franceses e suíços, agora recebemos similares belgas e holandeses, antes considerados caros demais”, diz Sandro Benelli, diretor de importação da rede.

A importadora de vinhos Expand, por sua vez, já registra uma alta de 40% no faturamento no primeiro quadrimestre deste ano, em relação ao ano passado, em consequência da ampliação da clientela. “A redução de preço trouxe para o mercado um consumidor novo, que antes nem olhava para os importados”, afirma Otavio Piva de Albuquerque Filho, diretor comercial da Expand.

Embalada por uma redução média de 10% no preço, desde o ano passado, a importação de vinhos no País cresceu 25% em 2010, segundo a Associação Brasileira de Exportação e Importação de Alimentos (Abba).


O segmento de veículos importados é outro que garante a ampliação da sua fatia de mercado, que já passou de 18% em 2009 para 22% no ano passado, e já alcança os 24% nos primeiros meses deste ano, segundo a Anfavea, entidade que representa as concessionárias instaladas no País. Grupos, como a Kia Motors, que traz seus carros da Coreia do Sul, aproveitam a “economia” com o real mais forte e aumentam o investimento na expansão da rede. “Os carros ficam mais baratos na hora de importar e assim temos sobra de receita para investir em novas concessionárias, propaganda e logística”, diz José Luiz Gandini, presidente da Kia. A empresa inaugurou seis novas lojas nos últimos 20 dias e ampliou, ainda, o quadro de funcionários, com 250 novas contratações no primeiro quadrimestre. A estratégia já garantiu um aumento de 60% das vendas no período.

A indústria que depende de componentes importados também está conseguindo reduzir custos e aumentar as vendas com o real forte. É o caso da coreana Samsung, que importa cerca de 80% dos componentes dos aparelhos de tevê, notebooks, monitores e celulares da marca, que são montados no Brasil. No ano passado, quando o dólar caiu para cerca de R$ 1,70 no segundo semestre, as vendas aumentaram mais de 50%. Este ano, a tendência é a mesma. “Sem dúvida estamos melhores que os exportadores, pois quando o dólar cai, vendemos mais e ficamos felizes”, afirma o vice-presidente de Novos Negócios da Samsung, Benjamin Sicsu.

Apesar da vantagem na importação, a empresa aumentou nos últimos meses a produção dos componentes nacionais, para se adequar à legislação que incentiva a nacionalização dos produtos.O real forte beneficia as indústrias, ainda, no processo de modernização do parque fabril.

Daniel Dias de Carvalho, diretor da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industrializados (Abimei), conta que a importação de maquinário aumentou 25% no ano passado, crescimento este que deve se repetir este ano. “Mesmo com alguns setores da indústria se queixando, o dólar barato ajuda a incrementar sua produção”, diz ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário, muito obrigado pela sua visita!