Dólar ganha terreno no mundo e tem maior alta frente o real desde outubro

Autor(es): Lucinda Pinto, Cristiane Perini Lucchesi e Eduardo Campos | De São Paulo
Valor Econômico - 06/05/2011

A decisão do Banco Central Europeu (BCE), de manter a taxa de juros básica estável, surpreendeu o mercado e foi o estopim para uma onda de queda do euro e valorização do dólar. No Brasil, a moeda americana subiu 1,24%, o maior ganho percentual diário desde 21 de outubro. A cotação chegou a R$ 1,625, seu maior nível desde 31 de março. Na semana, a alta acumulada é de 3,31%.

Essa alta não significa, na opinião de especialistas, uma mudança na tendência do câmbio, que ainda é de apreciação, dada a ampla liquidez vinda dos Estados Unidos e Japão. Para eles, trata-se mais de uma correção. Mas, reconhecem, as preocupações com o crescimento mais fraco em países da zona do euro e com o aperto monetário nos países emergentes ampliam o potencial de volatilidade da cotação nos próximos meses.

A forte movimentação que se viu no câmbio ontem não foi exclusividade do Brasil. Afetou também em cheio as chamadas "commodities currencies", moedas de países que têm em sua pauta de exportação uma concentração importante de matérias-primas como petróleo, metais e minério - caso do Brasil, Austrália, Canadá e Nova Zelândia. Assim como na relação com o real, o dólar subiu na comparação com as moedas desses países: 1,60%, 0,78% e 0,70%, respectivamente.

Embora a aposta em um aumento da taxa de juros pelo BCE não fosse consensual, boa parte do mercado estava posicionada a favor dessa hipótese. A decisão da autoridade monetária europeia pela manutenção da taxa, portanto, foi vista com surpresa. E justificou um movimento de correção de vários ativos. O euro tombou 2%, voltando a ser negociado na linha de US$ 1,45. Agora, muitos investidores já avaliam que um aumento nos juros em euro não virá também na próxima reunião do BCE, o que vai manter elevada a liquidez também na moeda europeia.

O efeito negativo da decisão do BCE veio somar-se ao clima de cautela que já vinha crescendo à medida que indicadores econômicos fracos dos Estados Unidos e também da zona do euro vinham sendo divulgados. Essa mudança de humor foi percebida, por exemplo, na curva de juros americana. O juro do título do Tesouro americano de 10 anos recuou de 3,60%, no final de março, para 3,15% ontem, nível mínimo do ano. "Há uma avaliação de que a economia americana não vai suportar uma alta de juros no curto prazo. Diante disso, houve uma correção da curva de juros dos títulos do Tesouro dos EUA, que estava muito "inclinada", prevendo elevação do juro básico da economia", explica o economista do J.P. Morgan Julio Callegari. "Nesse contexto, todos os ativos se movimentam juntos."

Callegari acredita que a "frustração" com a reunião do BCE ontem potencializou a correção do mercado, inclusive do real. "Mas nossa visão é que o movimento reflete os dados de curto prazo, deve ser passageiro." Para o segundo semestre, diz, o cenário do J.P. Morgan é de que a tão esperada retomada da atividade econômica americana fique mais clara, com a recuperação dos preços das commodities.

Nesse ambiente, o investidor estrangeiro segue reduzindo o tamanho de sua aposta na valorização do real. Pelo terceiro pregão seguido ele reduziu suas posições vendidas em dólar na BM&F. Anteontem, essas posições eram de US$ 14,28 bilhões (considerando-se o dólar e o DDI). No fim de abril estava em US$ 17,57 bilhões. Chegou a passar de US$ 20 bilhões no começo de abril.

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