Terra estrangeira

Veja - 16/05/2011

Os investimentos Internacionais no agronegócio brasileiro crescem e impulsionam a produção. Ainda assim, assustam o governo. O medo maior são os chineses

Os economistas situam entre o fim do século XIX e o início do XX o período no qual os investimentos estrangeiros ganharam relevância na economia brasileira, especial~me nos setores de indústria e de serviços. Na primeira década deste século, eles avançaram também no agronegócio. Um estudo encomendado à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário mostra que, nos últimos dez anos, as multinacionais do ramo de alimentos transferiram 47 bilhões de dólares para o país. Em relação a 1990, a participação do capital externo no agronegócio" saltou de 31 % para 44%. As companhias estrangeiras já controlam alguns dos principais produtos da pauta de exportação. Respondem por 51 % dos embarques de soja, 37% dos de carne suína e, agora, voltam-se para o açúcar e o álcool. O predomínio foi alcançado, primeiro, com a instalação no Brasil das multinacionais de comércio exterior. Em seguida, com a construção e a compra de indústrias de processamento de alimentos. A amação direta no campo foi deixada para depois. Tanto que, no fim da década passada, só 4% dos recursos externos para o agronegócio eram destinados às lavouras em si. "Historicamente, os estrangeiros se concentraram primeiramente na comercialização da produção e na indústria alimentícia", resume o economista Augusto Mussi Alvim, autor do estudo.

Na última década, essa situação começou a mudar. Os registros do Banco Central mostram que, em 2002, estrangeiros destinaram 104 milhões de dólares à compra de glebas. Em 2008, esse volume subiu para 548 milhões de dólares, um aumento de 427% em seis anos. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária calcula que 4,5 milhões de hectares em imóveis rurais (o equivalente a 0,5% do território do país) estejam atualmente nas mãos de estrangeiros, mas não sabe a que culturas eles são destinados, se são efetivamente explorados ou se visam apenas à especulação. Também não consegue ter clareza sobre a origem dos recursos. Isso ocorre porque 49% dos investimentos externos feitos no agronegócio, na última década, vieram de paraísos fiscais como Holanda, Suíça, Ilhas Cayman e Bermudas. O governo supõe que esse processo seja liderado por empresas chinesas. Assustado, tenra cercear a compra de terras por estrangeiros. Em agosto de 2010, a Advocacia-Geral da União limitou a venda de terras para empresas de outros países. A justificativa era reter em poder de brasileiros áreas consideradas estratégicas. O empresariado, que perdeu oportunidades de negócios, chiou. Na semana passada, o ministro da Agricultura. Wagner Rossi, avisou que o governo flexibilizará a proibição. Os estrangeiros continuarão sem poder comprar novas terras, mas poderão arrendá-las.

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