BC tenta pôr fim ao overnight

Autor(es): ROSANA HESSEL
Correio Braziliense - 26/04/2013

O Banco Central promete acabar com uma praga dos tempos de hiperinflação, que voltou com tudo nos últimos meses: o overnight. Por meio dessas operações, os bancos aplicam as sobras de caixa em títulos públicos por um período bem curto, muitas vezes da noite para o dia. Em abril, esses negócios atingiram R$ 702 bilhões, dos quais R$ 200 bilhões em investimentos com vencimento em 24 horas. As instituições alegam que mantêm essa montanha de dinheiro na ciranda financeira devido à disparada do custo de vida, que atingiu 6,59% nos 12 meses terminados em março. Os papéis que dão lastro às aplicações são corrigidos pela taxa básica de juros (Selic), de 7,50% ao ano.

O BC assegurou que, desde novembro do ano passado, vem tentando aumentar os prazos das chamadas operações compromissadas. A estratégia é concentrar as aplicações entre três e seis meses e, ao longo do tempo, estender o vencimento para um ano. Esse alongamento, no entender da autoridade monetária, porá fim ao que sobrou do overnight, e as taxas usadas nas operações, sobretudo as de três meses, servirão de referência para demais contratos, inclusive para os financiamentos às empresas. 

Bolsa Banqueiro
Para especialistas dentro e de fora do governo, não será fácil a missão do BC, uma vez que os bancos se acostumaram ao ganho fácil, sem riscos. O maior prejudicado pelo overnight é o Tesouro Nacional, que tem enfrentado dificuldades para vender títulos do longo prazo e baratear o custo da dívida pública. “Muito do interesse dos bancos pelas aplicações de curtíssimo prazo foi estimulado pelo próprio governo, ao reduzir a credibilidade da política monetária do BC”, disse o economista José Roberto Afonso, especialista em finanças públicas.

Pelos cálculos de Felipe Salto, economista da Consultoria Tendências, o custo anual dessas operações para os cofres públicos é de R$ 46 bilhões, valor equivalente a três programas Bolsa Família. “Tais operações podem ser chamadas de Bolsa Banqueiro”, criticou.