O pote de ouro

Paulo Werneck
Nasci numa época em que crianças conheciam contos de fadas, com princesas e dragões, joões e pés de feijão, até mesmo pote de ouro no fim do arco-íris.

Hoje tudo isso está desaparecendo, bebês que mal engatinham já sabem fotografar com equipamentos eletrônicos de última geração, mas a mística do pote de ouro não desapareceu, embora tenha mudado de localização...

Pelo menos é o que me parece, dada a quantidade de pessoas que me consultam sobre como abrir uma empresa de importação, e estudantes que buscam ideias para aplicar em monografias com esse mesmo tema.

Ocorre que o que está por trás dessas ideias, a princípio maravilhosas, é o desconhecimento de dois fatos básicos: a alta carga tributária que onera a circulação de mercadorias e a dificuldade de uma pequena empresa enfrentar as grandes no quesito preço.
A tributação das mercadorias, muito maior no Brasil que no exterior, faz com que o candidato a empresário veja o baixo preço das mercadorias no exterior e imagine poder ofertar preços semelhantes no mercado nacional.

Isso só é possível por meio de contrabando, pois, com as importações legais, ou as mercadorias serão oneradas com I.I., IPI, ICMS, PIS, Cofins, AFRMM etc., ou serão tributadas pelo RTS com alíquota única de 60%, mais ICMS, sem considerar o caríssimo frete por remessa postal ou expressa internacional.

Mesmo que a tributação fosse mais leve, uma pequena empresa não pode competir em preço com uma grande: a única forma de sobreviver é apresentando um diferencial que justifique uma margem maior, que o digam as pequenas lojas que sobrevivem competindo com grandes redes.

Além disso, parece-me claramente antipatriótico importar por importar, em detrimento do trabalho e da indústria nacionais. Não me entendam errado: não sou contra importação, o reverso da moeda da exportação, mas naquilo que, de acordo com as velhas lições de Smith e Ricardo, os outros fazem melhor.

Assim, que venha o presunto de parma, e que vá o óleo de soja – não o grão –, pois assim como não importamos o porco, não deveríamos exportar a matéria-prima.

Fica aqui, então, a minha sugestão: que os futuros empreendedores e os estudantes procurem investir no desenvolvimento do País, localizando produtos exportáveis, estudando formas de aumentar o valor agregado das nossas mercadorias de exportação.

Como consequência desse esforço, teríamos a redução dos nossos gargalos logísticos, o aumento da renda nacional, além, por óbvio, o aumento da sustentabilidade dos nossos negócios, mais firmemente plantados em necessidades do mercado, em vez de simples diferenciais de preço, que podem evaporar a qualquer mudança da taxa de câmbio.

Fonte: Informativo Sem Fronteiras