Câmbio afeta taxa de investimento

VALOR ECONÔMICO

Ana Paula Grabois, do Rio
19/10/2009


O investimento na economia brasileira deve seguir enfraquecido à reboque do câmbio valorizado, na avaliação de analistas ouvidos pelo Valor. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) já prevê queda de 15% a 17% na formação bruta de capital fixo (investimentos em máquinas e equipamentos e gastos em construção civil) neste ano em relação a 2008. O câmbio restringe o investimento não apenas da indústria exportadora, mas também do setor manufatureiro voltado ao mercado doméstico, que vem perdendo competitividade para os importados.
O coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea, Roberto Messenberg, ressalta que embora a economia tenha se recuperado no segundo trimestre, na comparação com o primeiro trimestre de 2009, o investimento apenas deixou de cair no período. "O ponto é que, com esse câmbio, o investimento pode piorar", afirma. O impacto sobre a indústria de transformação em geral e seus investimentos pode ser suavizado, caso a recuperação da economia mundial ocorra de fato, como sinalizam dados de agosto e setembro. "No Brasil, houve expansão da quantidade de produtos básicos, cujos preços subiram. Nos manufaturados, a queda da quantidade exportada foi brutal", disse Messenberg. O economista do Ipea, contudo, vê riscos maiores na continuidade da valorização do real. "Nem mesmo a recuperação do comércio mundial vai adiantar, porque o Brasil está competindo com países cujo câmbio não está tão valorizado, como a China."
Na avaliação do economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) David Kupfer, apesar do cenário pouco favorável, o empresariado poderia agora investir mais para manter a competitividade nacional. "Há um cenário de maior acirramento da disputa no comércio mundial e seria um bom momento do empresariado pensar no longo prazo, investindo para ocupar espaços no mercado internacional", afirmou Kupfer. Ele minimiza efeitos mais graves sobre as empresas brasileiras, pois elas já contam com estrutura de capital ajustada às oscilações cambiais. "As grandes empresas exportadoras não vão quebrar por causa da taxa de câmbio, mas o câmbio tolhe a decisão de investimento e isso pode causar perda de mercado no exterior."
Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o governo tem pouco a fazer para conter a valorização do real, a não ser pela baixa da taxa de juros, o que considera improvável. Com juros mais baixos, o entrada de capital externo financeiro cai e o câmbio se desvaloriza. Para compensar a menor rentabilidade do exportador de manufaturados, Castro defende a devolução de créditos de PIS e Cofins devidos pelo governo desde 2004 e estimados entre US$ 7 bilhões e US$ 10 bilhões. "Isso evitaria recorrer a capital de giro no banco."
Luciana de Sá, diretora da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan), vê sinais de recuperação das vendas externas em agosto e setembro. "Isso pode estar ligado à recuperação da América Latina, que compra a maioria dos manufaturados brasileiros exportados", disse Luciana, para quem já existe reação da indústria ao câmbio valorizado. Em 2008, 22% da produção industrial brasileira foi exportada. Já nos 12 meses encerrados em julho, tal participação teve pequena alta e chegou a 22,8%.

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