Cepal recomenda taxar exportação de commodities

Autor(es): Sergio Leo | De Brasília
Valor Econômico - 05/05/2011

A valorização das moedas dos países da América Latina afeta a competitividade das indústrias da região e já obriga os países latino-americanos a pensarem "seriamente" em ações como aumento da tributação de atividades extrativas exportadoras, disse a secretária-executiva da Comissão Econômica da ONU para América Latina e Caribe (Cepal), Alícia Bárcena, ao anunciar que a região bateu recorde de crescimento de investimentos estrangeiros em 2010.

Ela revelou que a Cepal estuda prós e contras dos mecanismos de controle de entrada de capitais estrangeiros, outro fator de valorização das moedas locais.

Bárcena informou que a América Latina foi a região que mais aumentou tanto a recepção como a realização de investimentos externos diretos em 2010. O investimento externo nos países da região aumentou 40%, para US$ 112,6 bilhões. Uma das novidades foi a participação da China, que, de uma atuação inexistente até 2009, passou a 9% do total de investimentos diretos na região em 2010.

Outro fator de destaque foi o aumento de investimentos entre os países latino-americanos, com o fenômeno das empresas "multilatinas" - como o império de telefonia de Carlos Slim e a Petrobras.

A tendência é o investimento direto continuar crescendo vigorosamente em 2011, segundo a Cepal, que prevê uma taxa de crescimento entre 15% a 25% neste ano.

A Cepal não recomendará mecanismos específicos para controlar a entrada de capital; cabe a cada país escolher o mais apropriado, explicou o diretor da Divisão de Produção da Cepal, Mário Cimoli. Os economistas da comissão estão preocupados com o que Bárcena vem chamando de "duplo choque" de valorização das moedas da região, provocado pela alta nos preços dos produtos básicos de exportação e pela alta liquidez (disponibilidade de dinheiro) mundial.
Entre 2007 e 2010, a América Latina elevou sua fatia, como destino dos investimentos diretos estrangeiros, de 5% para 10% do total. A queda de 7% no total de investimentos diretos dirigidos no ano passado aos países desenvolvidos ajudou nesse desempenho. Pela primeira vez, os países em desenvolvimento recebem mais da metade do total de investimentos diretos, apontou a Cepal, que, porém, não escondeu a supremacia da Ásia: os asiáticos absorveram cerca de 40% do total dos investimentos diretos, quatro vezes mais que os latino-americanos.

Os padrões de investimento também têm reforçado a "especialização produtiva" na América Latina. Nos países sul-americanos, aumentou o peso dos serviços (30% do total em 2010) e de recursos naturais (43% do total); no México, América Central e Caribe, o setor de manufaturas absorve 54% do total dos investimentos diretos estrangeiros, e os serviços, 41%. Nos países caribenhos, especialmente nos serviços ligados ao turismo, a proximidade com os EUA fez com que sentissem fortemente a retração da economia americana, que influenciou a queda de 18% nos investimentos diretos.

Os investimentos chineses reforçam a tendência à especialização. Foram cerca de US$ 15 bilhões em 2010, principalmente em fusões e aquisições, como a compra da Repsol -Brasil pela Sinopec. As compras da China foram concentradas em empresas na área de recursos naturais, especialmente mineração de cobre, no Peru, e petróleo, no Brasil e na Argentina.

Em 2010, a América latina também bateu recorde na atração de projetos de pesquisa e desenvolvimento das empresas transnacionais, 5,6% do total, mas a Cepal considera cedo para saber se há tendência de crescimento nesse tipo de investimento. Entre 2003 e 2005, a região havia recebido 3,6% do total de investimentos ligados a pesquisa e desenvolvimento, cifra que caiu para média de 3,2% entre 2008 a 2010. Nos últimos três anos os países da Ásia-Pacífico receberam 50% desses investimentos.

Bárcena alertou a região para a necessidade de investir mais em inovação e no aumento da produtividade, para garantir a criação de empregos de qualidade e a continuidade do crescimento.

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