Exportações avançam, mas com menor rentabilidade

Valor Econômico - 11/05/2011

"A primeira vista, os resultados da balança comercial brasileira em abril mostram um cenário róseo, já que as exportações chegaram a US$ 20,173 bilhões e a média diária atingiu o maior valor já registrado pelo Ministério da Indústria e Comércio. Mais do que isso, as exportações registraram aumento vigoroso de 40,1%. Como as importações também estão se expandindo, a corrente de comércio registrou cifra recorde de US$ 38,483 bilhões. E, para completar, o superávit do mês foi de US$ 1,863 bilhão, valor 45,2% superior ao registrado em abril de 2010.

Igualmente positivo parece ser o quadro pintado pelas estatísticas do primeiro quadrimestre, com recordes nas exportações, nas importações, no superávit e na corrente de comércio internacional do Brasil. As vendas ao exterior somaram US$ 71,4 bilhões, com aumento de 31,3%. As importações subiram 27% e chegaram a US$ 66,3 bilhões. O superávit acumulado totalizou US$ 5,03 bilhões, valor superior ao registrado em equivalente período anterior (US$ 2,166 bilhões). A corrente de comércio alcançou o recorde de US$ 137,778 bilhões.

Esses números acabam, porém, obscurecendo a realidade mais complexa e difícil dos exportadores, que enfrentam uma redução na rentabilidade, como detalhou material publicado pelo Valor na edição de sexta-feira. Na grande maioria dos setores, a valorização do câmbio - que foi de 2,15% entre janeiro e março - e o aumento de custos derrubaram a rentabilidade das exportações no período. E esse panorama não deve ter sofrido grandes alterações, já que a alta do real em relação ao dólar só fez se acelerar no último mês, levando a uma valorização de 5,91% no primeiro quadrimestre. E a pressão dos custos também se manteve em abril, com a inflação em níveis semelhantes aos observados em março.

Segundo levantamento feito pela Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), de janeiro a março, o rendimento caiu em 19 de 24 segmentos exportadores, embora todos tenham conseguido reajustar seus preços no exterior.

Um caso emblemático é o de metalurgia básica, que engloba os produtos siderúrgicos. No primeiro trimestre, os preços de exportação subiram 20% em relação ao mesmo período do ano passado, mas a alta de 17,5% dos custos e a valorização do real de 8% fizeram a rentabilidade recuar 5,5%. Há casos em que a queda do rendimento das vendas externas superou dois dígitos - no de material eletrônico e comunicações, atingiu 11%. A alta das matérias-primas manteve os custos em elevação no primeiro trimestre, enquanto o aquecimento do mercado de trabalho tem levado a reajustes salariais expressivos. Os poucos setores com aumento de rentabilidade nas exportações são produtores de commodities, como o de extração de minerais metálicos. O segmento, que inclui o minério de ferro, viu o rendimento subir 61,5%.

Os exportadores de manufaturados mais elaborados enfrentam uma situação bastante delicada, especialmente porque já viram a rentabilidade de suas vendas externas recuar no passado. O rendimento do setor de máquinas e equipamentos caiu 6,7% no primeiro trimestre, recuo que se dá em cima de um tombo de 13% registrado em 2010.

Um cenário parecido ocorre no segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias. Depois de ficar 10% menor em 2010, o rendimento das vendas externas do segmento encolheu mais 7,6% de janeiro a março, sempre na comparação com igual período do ano anterior.

No caso específico do setor automotivo, material editado pelo Valor na segunda-feira mostra os detalhes das distorções atuais em que carros produzidos na França custam menos do que no Brasil e mandar um ônibus fabricado na Suécia para mercados na América Latina é mais barato do que exportar a partir do Brasil - situação que começa a se tornar cada vez mais habitual. Dois exemplos são suficientes. O preço do modelo Logan no Brasil é o mais alto do mundo. Custa mais do que os produzidos na Argentina, Colômbia, Chile, França e Rússia. Em relação à Romênia, onde o carro da Renault foi concebido, a diferença passa de 80%. O segundo caso é o da filial brasileira da Volvo, que recentemente anunciou uma venda recorde para o Panamá. Mas dos 1,2 mil veículos envolvidos, somente 85 seguirão do Brasil. O restante vai ser produzido na Suécia.

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