Eduardo Campos
Valor Econômico - 11/05/2011
O mercado de câmbio passou por firme ajuste de baixa na terça-feira. As ordens de venda vieram acompanhadas da percepção de aumento no fluxo de recursos externos, algo que ganha respaldo no maior volume estimando para o interbancário, que ficou em US$ 2,6 bilhões no dia.
Quem lidera os ingressos são os bancos. Conforme mostrou matéria de ontem do Valor, são ao menos US$ 3 bilhões em captações de instituições financeiras, como HSBC, Santander, Bradesco, Safra, Votorantim e Fibra.
O aumento na oferta de moeda à vista também tem implicações no casado (dólar pronta contra futuro) e tira força no mercado de cupom cambial (DDI - juro em dólar). Com isso, a pressão compradora no mercado à vista e futuro diminui.
No fim da jornada, o dólar comercial apontava queda de 0,92%, a R$ 1,605 na venda, mínima do dia. Esa foi a maior queda percentual diária em um mês.
No mercado futuro, o dólar para junho registrava queda de 0,64%, a R$ 1,611 antes do ajuste final de posições.
Também na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), os estrangeiros voltaram a vender contratos futuros de dólar, mesmo que de forma tímida. Entre sexta e segunda-feira, o não residente vendeu US$ 900 milhões, elevando o estoque vendido para US$ 3,86 bilhões. Cabe ressaltar, no entanto, que tal montante ainda está distante dos US$ 10,18 bilhões do fim de abril. Colocando a posição em DDI na conta, a posição vendida está em US$ 14,36 bilhões.
O dólar também perdeu terreno no mercado externo, onde o euro ganhou cerca de 0,40%, retomando a linha de US$ 1,44. Já o Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, cedeu 0,26%, para 74,55 pontos.
Passando para o mercado de juros, o dia foi de realização de lucros nos contratos longos, que tiveram leve movimento de alta. A curva curta continua sem grandes alterações, mostrando ao menos duas altas de 0,25 ponto percentual na Selic.
Os agentes parecem mais confiantes na estratégia do Banco central (BC) para levar a inflação ao centro da meta. No entanto, há quem veja apenas uma acomodação de curto prazo. O mercado é muito influenciado por dados correntes e as projeções menores de inflação ajudaram a construir esse momento atual de maior confiança e menores prêmios de risco.
Dentro dessa corrente de mercado, o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, aponta que a autoridade monetária continua "arriscando", já que sua estratégia deixa de considerar que a inflação atual é um problema estrutural e não apenas reflexo de choques de preços externos e domésticos.
"O que o BC tem de combater é uma inflação estrutural, reflexo do crescimento do emprego e da renda nos últimos anos", diz Agostini, apontando que o bônus de crescimento de 2010 tem de virar ônus agora em 2011.
Segundo o especialista, é possível que o BC entregue inflação dentro da meta em 2011, ainda mais agora que parece ter reavaliado a percepção de impacto das medidas prudenciais sobre a inflação, tirando peso dessa ferramenta e voltando a usar a taxa de juros pelo tempo que for necessário.
No entanto, diz o economista, este será o segundo ano com inflação mais perto do teto de 6,5% do que do centro de 4,5%. "Postura gradualista não vai dar centro da meta em 2012. A inflação tem uma nova dinâmica", acredita,
O especialista respalda essa afirmação na estimativa de inflação anual de serviços de 9,9% em 2011, a maior desde o início do regime de metas.
Para o IPCA do ano respeitar os 6,5%, diz Agostini, a média mensal de inflação entre maio e dezembro deverá ser de no máximo 0,37%. A tabela abaixo mostra a média do IPCA nesse período para os anos de 2006 a 2010.
Ainda de acordo com o economista, duplo mandato é luxo de BC de país desenvolvido, onde a retomada da economia tem contrapartida em aumento de produção e da produtividade. Ou seja, crescimento da demanda não gera aumento de preço tão rapidamente, pois a estrutura de produção tem espaço para crescer.
No caso dos países em desenvolvimento ou emergentes, como Brasil, a prioridade é sempre o controle de preços, justamente porque o ciclos de crescimento ocupam toda a capacidade produtiva e, rapidamente, se experimenta descompasso entre oferta e demanda e consequente inflação.
Sinal claro de que é essa dinâmica que prevalece por aqui, segundo Agostini, é a disparada das importações, que suprem a demanda e barram o aumento de preços.
O segredo seria arrumar uma forma de controlar os preços e estimular o investimento, para ganhar capacidade produtiva.
Eduardo Campos é repórter
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