Especulação cambial caiu após IOF

Autor(es): Por Fernando Travaglini | De São Paulo
Valor Econômico - 30/08/2011

O mercado de câmbio ainda não se encontrou depois da paulada que recebeu do governo, que estendeu, há um mês, a cobrança do IOF para o mercado de derivativos, onde o preço da moeda americana é formado no Brasil. Por um lado, os agentes estão receosos sobre como será feita a cobrança do imposto, que ainda não foi totalmente esclarecida e, por isso, houve paralisação das operações nas primeiras duas semanas. De outro, sem o mercado futuro, a cotação do dólar passou a responder mais fortemente aos movimentos da moeda no exterior.

Ainda assim, a tendência de apreciação do real frente ao dólar não mudou, segundo especialistas, mesmo com a menor quantidade de apostas especulativas a favor do real. As previsões para a taxa de câmbio estão entre R$ 1,55 e R$ 1,6 para o fim do ano.

Os analistas e economistas continuam acreditando que, mesmo com todo o arsenal usado pelo governo até agora, o fluxo de moedas para o país continuará elevado, puxando o preço para baixo. Além disso, a moeda brasileira tem forte relação com o preço das commodities internacionais e, apesar de a expectativa não ser de valorização no médio prazo, também não há projeções de uma queda expressiva.

No curto prazo, entretanto, a volatilidade deve se manter e ninguém descarta que no caso de uma crise bancária o real possa se desvalorizar como ocorreu após a quebra do banco americano Lehman Brothers, em 2008.

Não se pode negar, no entanto, que o governo alcançou seu objetivo de reduzir da especulação nos mercados de câmbio. A posição vendida dos investidores estrangeiros na BM&FBovespa caiu consideravelmente desde o anúncio do IOF sobre os derivativos - de algo superior a US$ 24 bilhões, no início de julho, para pouco mais de US$ 15 bilhões, no fim de agosto. Ao mesmo tempo, os bancos também foram obrigados a reduzir suas posições vendidas de dólar no mercado à vista, que caiu de US$ 14,7 bilhões, em junho, para menos de US$ 2 bilhões em agosto.

Em parte, essas mudanças nas posições dos investidores contribuíram para uma redução da apreciação da moeda brasileira, que oscila em torno de R$ 1,6 desde então. Hoje, segundo operadores de câmbio, a moeda responde diretamente aos movimentos do dólar no exterior. "A cada medida do governo, o preço fica mais dependente do mercado lá fora. A dependência hoje chegou num nível absurdo", afirma um gestor de banco.

A liquidez de mercado não diminuiu, mas os operadores de câmbio argumentam que é difícil separar o quanto desse comportamento do dólar frente ao real se deve às medidas e quanto decorre do agravamento da crise externa, que obrigou boa parte dos estrangeiros a alterar seus portfólios ao redor do mundo.

"O mercado ainda não conseguiu avaliar o estrago, pois a medida veio pouco antes do rebaixamento americano", diz um gestor de câmbio. "Mas ainda é grande a chance de o mercado migrar para bolsas no exterior", avalia outro operador.

Segundo especialistas, esse risco de desidratação do mercado futuro brasileiro é de fato elevado. O mercado de compra e venda de moeda brasileira a termo no exterior (sem entrega física) é bastante líquido, com formação de preço no mercado de balcão operado pelos bancos internacionais. Falta apenas um contrato futuro que ofereça liquidez para fechar as duas pontas dessas operações.

Esse contrato já existe na bolsa de Chicago (CBoT), mas tem pouca liquidez. O risco, portanto, é de uma desintermediação das apostas, reduzindo inclusive o poder do governo brasileiro para atuar nesses mercados.

Os exportadores também perderam com a medida, pois parte dos novos custos dos bancos tem sido repassada para as companhias que querem fechar câmbio nesse momento, garante um operador. Ao mesmo tempo, o hedge cambial também ficou mais caro ou limitado ao patamar de US$ 10 milhões (valor cujas posições vendidas na BM&F são isentas da cobrança de IOF). A cobrança de 1% sobre a variação das posições vendidas no mercado futuro foi anunciada há um mês.

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