Mercosul terá inflação recorde

Autor(es): Fábio Monteiro
Correio Braziliense - 27/08/2011

Elevação dos preços no bloco chegará a 9,3% em 2011, prevê estudo.

Estimuladas pelo crescimento do consumo interno, as economias dos países que integram o Mercosul estão sofrendo para segurar o avanço dos preços. Um levantamento feito pela Economist Intelligence Unit (EIU) mostra que a inflação média do bloco em 2011 será de 9,3% — a maior do planeta, superando com folga a estimativa para países emergentes como Índia (7,2%) e China (5,3%). Analistas acreditam que o setor de serviços e as commodities agrícolas tendem a pressionar a alta da taxa no bloco de maneira mais expressiva.

"Não podemos considerar apenas a atividade econômica desses países. As commodities agrícolas têm peso grande na inflação local. Não por acaso, quanto temos uma oscilação forte nos preços desses produtos, a economia dos membros do Mercosul é afetada de alguma maneira", analisou o economista da Corretora Cruzeiro do Sul Jason Vieira.

A crescente demanda de países como a China, que ainda mantém a atividade econômica em nível elevado, apesar da crise na Europa e nos Estados Unidos, tem pressionado para cima o preço de produtos como soja, milho, minério de ferro, trigo, entre outros. Vieira acredita que, apesar desse cenário, o resultado não chega a ser uma surpresa. "O Mercosul tem países com um histórico longevo de luta contra a inflação", lembrou.

A elevação do emprego e da renda média da população também impulsionou o crescimento da inflação no bloco. "Muitos analistas ainda avaliam que o surgimento de novos postos de trabalho e a falta de mão de obra qualificada para algumas profissões dão margem para que os salários possam ter ganhos reais. Não há muito espaço para negociação para os empresários", Para Felipe Brandão, da corretora Icap Brasil.

Além disso, Brandão avalia que o volume elevado de capital estrangeiro que está entrando nos países do bloco também colaborou com o aumento de preços. "Os investimentos aqueceram alguns mercados, como no caso do Brasil, e isso acabou dando mais estímulo para o consumo", observou.

O menor grau de maturidade das economias do bloco também não pode ser desconsiderada. "Normalmente, quanto menos maduro é um país, maior é a dispersão dos seus preços. Quando olhamos para as economias dos desenvolvidos, notamos taxas de inflação muito menores", explicou Fábio Romão, economista da LCA Consultores.

Para ele, a diminuição da desigualdade de renda do Brasil junto com a estabilidade econômica conquistada após o Plano Real, mudaram os hábitos do consumidor. "Várias pessoas passaram a ter acesso a serviços que antes não tinham, e isso abalou a estrutura geral de preços", disse Romão.

INCC FICA EM 0,16%
O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) registrou desaceleração na medição mensal, divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). A inflação do setor cresceu 0,16% em agosto, bem abaixo do mês anterior, quando os preços avançaram 0,59%. No ano, o índice acumula variação de 6,31%. A redução no ritmo de alta foi mais acentuada nos segmentos de materiais, equipamentos e serviços, no qual a taxa recuou de 0,35% para 0,25%, e de mão de obra, que caiu de 0,84%, em julho, para 0,06% em agosto. "Acordos coletivos foram fechados no mês passado, por isso os custos haviam subido de maneira expressiva", explicou a coordenadora de estudos de construção civil do IBRE/FGV, Ana Castelo. Mas ela acredita que esse indicador pode se elevar novamente nas próximas verificações, pois negociações dos empregados da categoria ainda estão acontecendo em Recife e em Belo Horizonte.

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