Visão do Correio: Cenário não é de marolinha

Correio Braziliense - 30/08/2011

Finalmente o governo tornou públicas preocupações que assaltam diferentes setores da economia, da política e da sociedade em geral. Em entrevista coletiva concedida na manhã de ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou medida tomada em resposta aos riscos desenhados no cenário internacional. A União Europeia, os Estados Unidos e o Japão afundam em crise que lhes dificulta o crescimento e, claro, lhes restringe o poder de importação.

Diferentemente de 2008, quando a administração Lula da Silva enfrentou as consequências da explosão da bolha imobiliária nos Estados Unidos com medidas fiscais, a equipe da presidente Dilma Rousseff entende que se esgotou o modelo então adotado. O caminho, agora, é monetário. Trata-se de aperto nas contas do governo federal, providência há muito reclamada pelos que se opõem à gastança da máquina pública, para que o Banco Central possa reduzir a taxa básica de juros (Selic), de 12,50% ao ano.

A meta de superavit primário terá aumento de R$ 10 bilhões em 2011. Ambiciosa, a cifra oscila entre 0,25% e 0,30% do Produto Interno Bruto (PIB). A meta, assim, subirá dos atuais
R$ 117,9 bilhões para R$ 127,9 bilhões — 3% do PIB para 3,3%. A iniciativa tem objetivos claros. De um lado, visa diminuir os juros da dívida pública e manter-lhe a trajetória de queda. De outro, facilitar o controle da inflação.

Segundo o ministro, a tesoura atingirá as contas-correntes. Não arranhará os investimentos, que criam empregos, estimulam a inovação e facilitam as exportações. Também não atingirá os programas sociais. O Bolsa Família e o Brasil sem Miséria manterão o orçamento para o país avançar na luta de engordar o tamanho da classe média e incluir mais brasileiros entre os beneficiários das benesses do desenvolvimento e do salto do Brasil no cenário internacional.

Ao enxugar recursos da economia, o governo abre caminho para atender a uma das mais sérias reivindicações de empresários, políticos e sindicalistas. Trata-se da queda da taxa de juros. Mas reduzir o custo do dinheiro não constitui tarefa fácil em ambiente de crise internacional nas dimensões e duração previstas — não inferior a dois anos. É importante que o Legislativo colabore no esforço governamental. Tramitam no Congresso 19 propostas de aumento de gastos, a maior parte relacionada a remuneração de servidores. O parlamento desempenha papel crucial neste momento. É dele também a luta da estabilização econômica e da manutenção do crescimento com o mínimo de solavancos.

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