Autor(es): Renato Ferraz
Correio Braziliense - 06/08/2011
A diminuição do IPI, o Imposto sobre Produtos Industrializados, vai fazer cair os preços dos carros brasileiros? Será mesmo que nossos automóveis custam tanto em razão da carga tributária? Sinceramente, devemos acreditar nessa explicação? E, pior, nos calar? A iniciativa de Dilma Rousseff prevê que o tributo recolhido pelas montadoras deva ser reduzido (talvez em até 30 pontos percentuais) até meados de 2016. Mas ninguém disse, até agora, de quanto será a queda no custo de produção e, consequentemente, no valor final ao consumidor. Ninguém disse, por exemplo, se haverá alguma contrapartida das montadoras — que tal reduzir nos mesmos moldes e percentuais a margem de lucro?
Ninguém diz ou faz nada. E, assim, vamos em frente ouvindo uma orquestra sem som e esperando que o mercado (ah, esse mercado!) resolva tudo por nós. Sim, sabemos que o tal custo Brasil é elevado. Afinal, nosso sistema de saúde, apesar de universal, é precário. O transporte público, ao exigir subsídio para levar o empregado até a fábrica, com o famigerado vale-transporte, é um fracasso.
Mas sabemos, porém, que a produção automobilística brasileira disparou: há 30 anos, vendíamos pouco mais de 1 milhão de unidades/ano; agora, vamos produzir 3,4 milhões em 2011. Dá mais de 1 milhão por década! Já somos o 5º maior produtor do mundo. Mas alguém, sinceramente, consegue sentir que tenha havido redução de preço em função da alta da demanda, do aumento de produção efetiva? Há mais fábricas instaladas, exportamos bem mais, fizemos acordos comerciais vantajosos com países do Mercosul. Aliás, temos isenção mútua do imposto de importação com o México. Mas certo carro de origem japonesa custa uns R$ 25 mil por lá; aqui, R$ 56 mil. E por que o mesmo veículo (o mesmo) que circula no Brasil, no México e no Chile é mais barato lá fora?
Epa, não culpem os impostos! Levantamento de uma publicação especializada mostra que o conjunto tributário, a eterna Geni, tem caído (o imposto do carro flex, maioria nas ruas, desabou mais de 1/3). Além disso, determinado banco de investimentos constatou que parte significativa dos lucros globais de gigantes do setor sai do Brasil.
No geral, caro leitor, o carro brasileiro é caro porque pagamos sempre o que nos cobram por ele. Simples assim.
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