Após leilão "surpresa", mercado já vê dólar a R$ 1,95

do Brasil Econômico
Após leilão Intervenção do BC nesta segunda-feira reforça o cenário no qual o câmbio realmente será utilizado pela autoridade monetária para conter as persistentes pressões inflacionárias.

O mercado cambial doméstico já vinha com as posições vendidas (quando a aposta é pela queda do dólar) dos bancos e investidores estrangeiros prevalecendo sobre as compradas, uma vez que, com a pressão inflacionária em níveis cada vez mais preocupantes, dificilmente retomaríamos ao nível de R$ 2,10, pelo menos no curto prazo.

O dólar mais caro impacta nas compras dos importadores, que acabam repassando o aumento para o consumidor final, alimentando o processo inflacionário que tanto preocupa o BC.

No final do ano passado começou a aparecer no mercado uma ala que apostava em um dólar mais depreciado ao longo de 2013, até mesmo abaixo do piso de R$ 2,00, para ajudar no controle dos preços.

O argumento que aparecia como impedimento a essa atuação no câmbio era o fato de a economia ainda estar com um desempenho abaixo do desejado - o dólar mais valorizado poderia contribuir na economia com um fortalecimento das exportações industriais.

No entanto, pelo que pudemos observar nesta segunda-feira (28/1), a preocupação do governo, neste momento, parece maior com a inflação do que com o ritmo do crescimento.

Isso porque o BC optou pela rolagem de 37 mil contratos de swap cambial tradicional (equivalente a uma venda de divisas no mercado futuro) com vencimento em fevereiro, em uma operação que pegou todos do mercado cambial de surpresa.

O giro financeiro do swap atingiu US$ 1,848 bilhão.

A surpresa não foi pela operação em si, e sim pelo patamar no qual se encontrava a taxa do dólar quando o leilão foi anunciado, R$ 2,035 (máxima do dia), e que, até então, era visto pelo mercado como um nível de conforto para a autoridade, já que não era tão alto para impactar na inflação, e nem tão baixo para gerar reclamações do setor exportador.

Como resultado da atuação do BC, o dólar encerrou a sessão frente ao real com um recuo de 1,38%, negociado a R$ 2,001 para venda, na mínima da sessão.

A última vez que a cotação da moeda havia fechado em nível mais baixo foi 2 de julho de 2012, quando ficou em R$ 1,9865.

"Existia a expectativa de que o dólar seria mantido em níveis baixos, já que tem muita posição vendida no mercado. O que surpreendeu foi a ação do BC", afirma Fernando Bergallo, gerente de câmbio simplificado da Tov Corretora. "Não estávamos esperando a rolagem do swap".

De acordo com Bergallo, aparentemente a autoridade monetária abandonou a banda dos R$ 2,00 aos R$ 2,10, que estava bem definida e aceita pelo mercado.

"Parece que neste momento a pressão pela meta inflacionária está tendo um pouco mais de peso do que o potencial de perda de volume exportado", diz o gerente da Tov, que não descarta o dólar em R$ 1,95 nas próximas sessões.

"Esse é um nível que deve estar servindo dentro do modelo macroeconômico do governo", pondera. "Fazendo o leilão em R$ 2,03, o BC sinaliza que esse é um patamar alto".

Para cada queda de 1% na taxa do dólar, o reflexo na inflação, que demora cerca de seis meses para aparecer, fica na casa dos 0,20%, explica Bergallo.

Juros

A curva de juros futuros da BM&FBovespa registrou forte abertura na primeira parte do pregão, mas a atuação do BC no câmbio parece ter sido bem aceita pelos operadores, que não só devolveram toda a alta como até derrubaram as taxas.

Mais negociado, com giro de R$ 50,287 bilhões, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2015, que bateu na máxima de 8,05%, fechou a 7,93%, frente aos 7,96% do fechamento anterior.