Aumento de preço reacende debate sobre importados

Valor Econômico - 23/01/2013


As notícias de aumento dos preços domésticos para diferentes tipos de papel ao longo do primeiro trimestre reacenderam o debate sobre as importações do produto e as medidas que dificultaram as compras externas, ao menos nos elos da cadeia que estão mais próximos do consumidor final.
Entre importadores, gráficas e distribuidores, há quem atribua o reajuste justamente à falta de concorrência no mercado brasileiro, que teria se acentuado após a adoção de regras que tornaram mais cara e demorada a importação de papel. As papeleiras, por sua vez, garantem que o aumento se deve exclusivamente à escalada dos custos.
Desde meados do ano passado, importadores e gráficas vinham alertando sobre o impacto que o endurecimento das regras para importação - imposto mais alto, fim da licença automática - teria nos preços internos. E, conforme o previsto, as fabricantes brasileiras de papel iniciaram 2013 com anúncios de reajustes de até 12%.
Os números da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa) até novembro mostram que, de fato, houve queda nas importações - de 3,6%, para cerca de 1,3 milhão de toneladas. Nos mesmos 11 meses, o consumo aparente do produto subiu 1,4%, para aproximadamente 8,9 milhões de toneladas, e as fabricantes privilegiaram suas vendas domésticas em detrimento das exportações.
Mais do que a leve melhora das vendas, o maior direcionamento de papel ao mercado interno, que oferece margens melhores, em substituição aos importados, beneficiou a indústria nacional.
Segundo as papeleiras, o aumento da alíquota de importação de 14% para 25% e outras medidas que protejam o mercado brasileiro de práticas que ferem as regras da concorrência - e do excedente de oferta na Europa e na Ásia - estão refletidos nos volumes menores de importação. E não há problema algum nisso, já que a indústria local vinha sendo "lesada", avaliam.
Sobre o aumento de preços, afirmam que a medida é inevitável. Despesas crescentes com insumos e mão de obra e a impossibilidade de repasse integral da alta dos custos ao preço final, após uma tentativa frustrada em meados de 2012, justificam a correção das tabelas de preço neste momento.
De janeiro a dezembro, segundo uma fabricante de papel-cartão, o preço médio de referência subiu 20%, além da variação cambial de 14%. Em químicos, também houve aumento de 14%. Além disso, produtores de pasta mecânica avisaram, desde o ano passado, que aplicariam uma nova tabela de preços em 2013 diante dos custos maiores com madeira e mão de obra.
Do lado dos importadores, distribuidores e gráficas, a percepção não é a mesma. Para alguns dos participantes desses segmentos, a indústria nacional conseguiu emplacar suas reivindicações junto ao governo com o objetivo de inviabilizar a concorrência dos importados e, dessa forma, abriu espaço para aumentos de preço.
No ano passado, lembram representantes de empresas dessas áreas, pouco antes do aumento da alíquota de importação para papéis do tipo cartão e cuchê revestido, a indústria tentou um reajuste de 11% nos preços, mas não conseguiu aplicar o índice cheio. Desta vez, diante do encarecimento do produto importado, tudo indica que o aumento será aplicado integralmente.