Por inflação, BC volta a agir no câmbio

BC rola swaps e derruba dólar para conter inflação
Autor(es): Por José Sergio Osse e José de Castro | De São Paulo
Valor Econômico - 29/01/2013


A preocupação com a inflação trouxe o Banco Central de volta ao mercado de câmbio, um mês após sua última intervenção, por meio de um leilão de rolagem antecipada de US$ 1,85 bilhão em swaps cambiais tradicionais. O impacto da atuação do BC derrubou a moeda americana ao menor patamar desde 2 de julho do ano passado e a cotação chegou a R$ 2,001, queda de 1,33%.
O mercado entendeu que a valorização do real frente ao dólar vai continuar. No mercado futuro, o contrato para fevereiro fechou indicando a moeda a R$ 1,997 no vencimento. O leilão de ontem, que antecipou em cinco dias o vencimento dos swaps (que têm o efeito de uma venda de dólar futuro), sinaliza que o BC vai usar a política cambial como ferramenta para o controle de preços, em detrimento de seu uso como alavanca para as exportações. Indica, também, uma mudança para baixo nos limites da banda cambial informal seguida pela autoridade monetária. 
A preocupação com a deterioração do cenário de inflação no país trouxe o Banco Central de volta ao mercado de câmbio, um mês após sua última intervenção. A atuação veio na forma de um leilão de rolagem antecipada de US$ 1,85 bilhão em swaps cambiais tradicionais. O impacto foi tão forte quanto o obtido em 26 de dezembro passado, data da última ação da autoridade monetária, e derrubou a moeda americana para R$ 2,001, menor patamar desde 2 de julho. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o contrato para fevereiro fechou indicando a moeda a R$ 1,997 no vencimento.
O leilão, que antecipou em cinco dias o vencimento desses swaps (que têm o efeito de uma venda de dólar futuro), sinaliza, para muitos profissionais do mercado, que o BC realmente vai utilizar o dólar como ferramenta de controle de preços, em detrimento de seu uso como alavanca para exportadores.
"O BC adotou um viés claro de controle da inflação. A medida está em linha com uma maior flexibilização do mercado de câmbio", disse Felipe Pianetti, estrategista de mercados emergentes do banco J.P. Morgan. "A rolagem dos swaps de fevereiro sugere uma maior tolerância com um real mais apreciado."
Para Pianetti, a medida demonstra que a inflação passou a ser a maior preocupação do BC e do governo. A autoridade monetária, diz, sabe que algo tem que ceder dentro de sua política monetária para ser usado no controle da inflação, e isso agora passa a ser o câmbio.
Pouco antes do meio dia, após o dólar bater R$ 2,037, o BC anunciou leilão de 37 mil contratos de swap, que foram todos assimilados pelo mercado. Com a rolagem, a moeda despencou e caiu 1,33%, indo à menor cotação desde os US$ 1,987 registrados há mais de sete meses.
A intervenção da autoridade monetária se deu quando a moeda ainda estava dentro do intervalo considerado como banda informal, entre R$ 2 e R$ 2,05, tido até então como preços limites para o dólar. O mesmo tinha ocorrido em 26 de dezembro, quando o BC atuou pela última vez. Na ocasião, surpreendeu o mercado com dois leilões de swap tradicional, exatamente os que foram rolados, num momento em que o dólar estava dentro do que era considerada a banda cambial na época.
A atuação do BC também indicou a mudança para baixo nos limites da banda cambial da autoridade monetária e sinaliza que esse intervalo, agora, deixa de ser fixo e passa a ser móvel, com teto e piso variando no curtíssimo prazo de acordo com indicadores e eventos econômicos relevantes. Para alguns profissionais, inclusive, o novo piso estaria abaixo de R$ 2, o que seria a primeira desde que a banda foi colocada em prática.
"Continuamos na banda, mas agora é uma banda móvel. Se há algumas semanas a percepção era que os limites eram entre R$ 2,05 e R$ 2,15, agora é que ela está entre R$ 1,95 e R$ 2,05", disse David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch no Brasil. "O BC continuará atuando em faixas de cotação, e a preferência é por um câmbio mais perto de R$ 2 do que de R$ 2,10."
Segundo Beker, os limites da banda cambial móvel vão depender muito mais de fatores de curtíssimo prazo daqui para diante. Dependendo do indicador e evento, os limites serão ajustados para privilegiar o controle da inflação ou a promoção da competitividade.
"Sexta-feira, por exemplo, saem dados de produção no país, que devem vir ruins, o que deve fazer as atenções se voltarem mais para a competitividade", disse ele. "Não dá para usar o câmbio para as duas coisas [controlar a inflação e melhorar a competitividade], por isso ele fica no meio do caminho. É querer demais de um instrumento só."
Ainda que seja a primeira vez que o piso da banda cambial esteja abaixo do nível psicológico de R$ 2, não é possível precisar qual seria esse piso, disse o executivo do Bank of America. Ele acredita que seja perto de R$ 1,95, mas admite que pode ser até abaixo disso.
Mesmo os que não acreditam na real existência de uma banda cambial, caso de Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra, veem chances de o dólar cair abaixo de R$ 2. Para ele, porém, o benefício para a inflação não viria exatamente de um dólar mais depreciado, mas das menores oscilações da moeda em relação ao real.
"O BC deu sinal de que quer menos oscilações no câmbio, por isso podemos ter um dólar abaixo de R$ 2, até a R$ 1,95, mas num patamar sempre próximo a R$ 2", disse Kawall. "Ele vai atuar para não escapar nem para cima, nem para baixo."
Segundo ele, o BC tem indicado nas atas das últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) que acredita que os ativos financeiros serão mais "comportados" neste ano do que em 2012. Ou seja, está trabalhando com um cenário em que não haverá tanta pressão inflacionária vinda de ativos financeiros, como o dólar. Além disso, ele acredita que, para promover alívio inflacionário via câmbio, o dólar teria que cair ainda mais que o patamar atual, e ficar depreciado por tempo suficientemente longo - algo que ele não enxerga no horizonte próximo.
"O governo não vai deixar cair por terra todo o esforço do ano passado para melhorar a competitividade", disse ele. "E não dá para ser uma queda temporária do dólar, pois isso não teria efeito nenhum."
Jankiel Santos, economista-chefe do Banco Espírito Santo de Investimentos, é outro que acredita que há limites para a valorização do real, dado o impacto negativo que pode ter sobre a ainda fragilizada indústria nacional. "Com o leilão, é como se o BC dissesse: "não precisam puxar a moeda mais para cima". Não consigo ver isso como sinal claro que ele quer o dólar abaixo de R$ 2", disse o economista do BES. "Já tem um problema de competitividade que, com o dólar mais barato, poderia piorar, porque afetaria as expectativas de investimento. Para mim é mais um sinal que o BC quer essa taxa estável, para dar alguma previsibilidade à indústria."