Câmbio é principal arma contra alta de preços

Autor(es): Por Cristiano Romero | De São Paulo
Valor Econômico - 25/01/2013


São três os principais recados dados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na ata divulgada ontem: a taxa básica de juros (Selic) não sofrerá novos cortes; a taxa de câmbio deve ficar onde está; e o Banco Central (BC) está contando, em 2013, com a geração de um superávit primário cheio, sem descontos, nas contas públicas.
Ao revelar piora no cenário de curto prazo para o comportamento da inflação, o Copom sinalizou que, a depender do BC, dois dos instrumentos que o governo vinha usando para estimular a atividade econômica - os juros e o câmbio - não estão mais disponíveis para essa finalidade. A taxa Selic, ao cair de 12,5% para 7,25% ao ano em pouco mais de um ano, já fez a sua parte e seus efeitos sobre a demanda doméstica são "defasados e cumulativos".
O Comitê não fala abertamente em câmbio na ata, a não ser ao reiterar que, no cenário de referência, trabalha com a hipótese de manutenção da cotação em R$ 2,05 no "horizonte relevante", assim como da Selic em 7,25% ao ano. Quando sinaliza, porém, que o juro permanecerá estável por um período "suficientemente prolongado", o que significa dizer que a Selic não será elevada para combater pressões inflacionárias, o Copom está avisando que conta com a taxa de câmbio para fazer parte ou todo o trabalho de contenção dos preços.
Não se deve esperar, portanto, que nos próximos meses o real se desvalorize em relação ao dólar americano. O Banco Central não deixará que isso ocorra. Na verdade, o câmbio pode até apreciar um pouco mais em relação ao nível em que estava no fim do ano.
O câmbio apreciado ajuda a baratear os produtos importados e, desta forma, a conter reajustes de preços no mercado interno. Além disso, diminui o custo de capital das empresas, que importam bens de capital (máquinas e equipamentos) mais modernos, o que, por sua vez, pode funcionar como um estímulo ao investimento.
A disposição do BC em segurar o câmbio fica ainda mais clara quando se sabe que outro instrumento de combate à inflação - a contenção dos gastos públicos - não será utilizado neste ano. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, deram entrevistas neste início de ano sinalizando que a meta cheia de superávit primário (R$ 155,9 bilhões ou 3,1% do PIB) não será cumprida. A política fiscal, observa o BC em seus documentos, é hoje "expansionista".
Como de praxe, o Copom diz ao mercado que conta com a meta cheia de superávit. Só mudará o discurso se o governo oficialmente anunciar que a meta mudou, o que dificilmente ocorrerá. Sendo assim, quando chama a atenção para o aumento das pressões inflacionárias, avisa que os juros permanecerão estáveis e afirma que conta com um superávit primário que todos sabem que não virá, o BC está dizendo, na prática, que só lhe resta recorrer à taxa de câmbio para segurar a inflação, que, nos últimos três anos, ficou persistentemente acima da meta (4,5%).