Governo resiste à pressão para brecar importação de roupas

Autor(es): Raquel Landim
O Estado de S. Paulo - 25/01/2013

Técnicos do ministério avaliam que pedido de salvaguarda para confecção é "frágil" e pedem novos dados


O governo está resistindo à pres­são do setor têxtil para frear a entrada de roupas importadas no País por meio de uma salva­guarda para o setor de confec­ção. Segundo uma fonte ouvida pelo Estado, a medida é muito "forte" e "abrangente" e não "re­solveria o problema".
Em agosto do ano passado, a Associação Brasileira da Indús­tria Têxtil (Abit) encaminhou um pedido de investigação de sal­vaguarda para 60 itens do setor de vestuário, alegando que está ocorrendo um surto de importa­ções de roupas no País. Estão na lista camisas, calças, vestidos, saias, roupa infantil, moda praia, roupa íntima e etc.
A salvaguarda é uma cota ou sobretaxa aplicada por um perío­do contra todos os países - uma espécie de "trégua" para o setor se recuperar. Trata-se de um ins­trumento de defesa comercial menos usado que o antidumping, que é aplicado para apenas um produto e uma origem.
O pedido da Abit continua em análise no Departamento de De­fesa Comercial (Decom), do Mi­nistério do Desenvolvimento, que não tem prazo para decidir se abre ou não o processo. A in­vestigação só começa se o De­com entender que há indícios su­ficientes de que um surto de im­portação está provocando dano à indústria doméstica.
Os técnicos do ministério con­sideraram a petição "frágil" tec­nicamente, principalmente em relação ao dano provocado pelas importações ao setor, e pediram mais dados. A reportagem apu­rou que o governo solicitou que os dados fossem atualizados pa­ra 2012 e que fossem incluídas pelo menos mais cinco empre­sas no processo, além das 35 que já abriram seus dados.
"Falta vontade política. O go­verno está se escondendo atrás de argumentos técnicos", disse uma fonte que preferiu não se identificar. Segundo esse interlo­cutor, o setor de confecção reco­nhece que a salvaguarda é um instrumento "potente", mas que "não deve ser mistificado".
A avaliação dos empresários da confecção é que medidas antidumping não são eficientes para defender um setor fragmentado, que possui diferentes tipos de produtos e mais de 30 mil empre­sas com mais de cinco emprega­dos espalhadas pelo País.
Tributos. De acordo com uma fonte do governo, "o setor pode ser auxiliado de outra maneira, com medidas antidumping ou com alívio tributário". O setor de confecção foi incluído na de­soneração da folha de pagamen­tos promovida pelo governo fe­deral, mas, na avaliação dos em­presários, o efeito foi limitado.
A Abit está solicitando ao go­verno que crie um regime tribu­tário especial para a confecção, a exemplo do que já ocorre com outros setores como construção civil e petróleo. A proposta é re­duzir a carga tributária da confec­ção dos atuais 18% da receita bruta para algo entre 5% e 10%. A entidade, no entanto, não deta­lhou como isso seria feito.
Pelos cálculos da Abit, a ado­ção do novo regime tributário significaria um aumento de 70% na produção física e a geração de 300 mil postos de trabalho. Se­gundo uma fonte do setor de con­fecção, o regime tributário especial e a salvaguarda são medidas complementares. "Não vamos jogar a toalha no caso salvaguar­da", diz a fonte.