Déficit externo resiste a câmbio desvalorizado e PIB mais fraco

Autor(es): Por Alex Ribeiro e Murilo Rodrigues Alves | De Brasília
Valor Econômico - 24/01/2013


A forte desvalorização cambial do último ano e meio e a fraca expansão da economia não foram capazes de deter o crescimento do déficit em conta corrente em 2012, o principal indicador das contas externas do país. O resultado negativo fechou em 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB), percentual considerado sustentável e em linha com outros países da América Latina, mas ainda assim o maior valor desde 2001.
O dado é acompanhado com atenção pelos mercados porque, quando há déficit, o país é obrigado a tomar empréstimos no exterior ou a atrair investimentos estrangeiros para cobrir a diferença. Economistas costumam considerar aceitáveis percentuais entre 3% e 3,5% do PIB. Os investimentos estrangeiros diretos (IED), um tipo de capital bastante estável, chegaram a 2,88% do PIB em 2012 e foram mais do que suficientes para cobrir o déficit em conta corrente. No ano passado, ingressaram no país US$ 65,3 bilhões em IED, valor somente inferior ao registrado em 2011 (US$ 66,7 bilhões).
Em dólares, o déficit em conta corrente chegou a US$ 54,246 bilhões no ano. Nele estão incluídas a balança comercial (exportações menos importações), o balanço de serviços (pagamentos de juros da dívida, remessas de lucros pelas multinacionais e gastos de turistas no exterior, entre outros) e as transferências unilaterais (remessas ao Brasil sem vínculo comercial ou financeiro, como rendas enviadas por imigrantes).
O percentual de 2,4% do PIB está em linha com os valores de países da região. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta déficit de 3,2% do Produto Interno Bruto para o Chile em 2012, de 3,1% do PIB para a Colômbia e de 0,9% do PIB para o México. O Fundo espera um superávit de 0,3% do PIB para a Argentina. O Brasil registrou superávits entre 2003 e 2007, fruto da desvalorização cambial. Desde então, tem apresentado déficits externos moderados.
"Como um país emergente, é natural que o Brasil tenha déficits em conta corrente", disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Tulio Maciel. Ele lembrou que a contrapartida do déficit é o ingresso líquido de capitais, que complementa a poupança doméstica do país no financiamento de investimentos.
Ainda assim, surpreende a resiliência do déficit em conta corrente num ambiente de desvalorização cambial e de atividade doméstica fraca. A taxa de câmbio sofreu uma desvalorização de cerca de 30% desde fins de 2011. O crescimento do PIB esperado para 2012 é de cerca de 1%. Juntos, esses dois fatores deveriam ter reduzido a demanda por importações de bens e serviço e incentivado as exportações.
Maciel pondera, porém, que o crescimento mundial foi mais fraco do que o esperado. Também houve queda de 5% nos preços de produtos exportados pelo Brasil. Com isso, houve um recuo de 5,2% nas receitas de exportações, que fecharam em US$ 243 bilhões em 2012. Apesar do fraco desempenho da economia, acrescentou, o ganho de renda real chegou a 6% no ano, em virtude do quadro de pleno emprego no país. Isso ajuda a explicar o crescimento de 6% nos gastos de turistas no exterior em 2012, que chegaram a US$ 22,2 bilhões.
A fraca atividade econômica, por outro lado, se refletiu na redução de 37% das remessas de lucros e dividendos, que somaram US$ 24,1 bilhões. "Caiu a lucratividade das empresas", diz Maciel. O PIB fraco conteve as importações, que recuaram 1,3%, para US$ 223 bilhões. O Brasil tem atraído mais turistas estrangeiros, que gastaram US$ 6,6 bilhões, valor recorde.
O crescimento econômico tende a se acelerar em 2013 para mais de 3%, segundo projeções de economistas privados. O aumento da inflação também tem consumido parte dos ganhos da desvalorização cambial. Ainda assim, o BC projeta uma leve alta do déficit em conta corrente em 2013, para 2,73% do PIB.
O crescimento econômico mundial de 2013, de outro lado, tende a ser um pouco mais forte. O FMI projeta uma expansão de 3,5%. Com isso, as exportações devem aumentar 10%, chegando a US$ 268 bilhões, prevê o BC.