Opinião - Emergentes e guerra cambial

Valor Econômico - 08/01/2013
Assis Moreira

A diferença de crescimento econômico deverá aumentar de novo em favor dos emergentes, em 2013, segundo boa parte dos relatórios produzidos por analistas europeus na passagem de ano.

Somado ao efeito da liquidez criada nos últimos meses por grandes bancos centrais e ao potencial de futuras compras oficiais de ativos, isso deve acelerar mais fluxos de capitais para os emergentes, o que por sua vez pode reacender ameaças de guerra cambial.

A produção industrial dos emergentes cresceu em dezembro no seu ritmo mais rápido em mais de 18 meses. O Índice de Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês), que mede a atividade de milhares de fábricas, sugere que em alguns mercados a produção industrial cresceu 6% ao ano comparado aos 4% de meados de 2012.

Maior expansão está concentrada na Ásia e AL

O nível alcançado em dezembro ainda é fraco para padrões históricos dos emergentes, como nota Neil Shearing, da consultoria Capital Economics, de Londres. Basta ver que a produção industrial do grupo se expandiu a uma taxa média de 7,5% na última década.

Também persiste grande diferença de desempenho no grupo. A maior expansão econômica está concentrada na Ásia e na América Latina. Já o ritmo da produção na Europa do Leste continuou lento, afetado pela enorme dependência em relação à combalida zona do euro.

Economistas de vários bancos apostam assim em expansão de 5,7% no PIB dos emergentes neste ano, comparado a 1,2% no mundo desenvolvido.

Países desenvolvidos fizeram dois terços do crescimento da produção global entre 1997-2006, mas sua parte cai para apenas um terço entre 2007-2016 (veja quadro abaixo), na avaliação do banco francês Société Générale.

Como a parte do PIB dos emergentes continua a fazer diferença, isso teoricamente lhes dá maior influência sobre seus parceiros comerciais.

Mais consensual é que a recuperação da China parece firme. A desestocagem chega ao fim e estímulos recentes dão resultado, com o crescimento chinês podendo se acelerar no primeiro semestre e ficar perto de 8,5% em 2013. Na América Latina, as perspectivas também são melhores, com mais expansão esperada no Brasil e com o México tendo desempenho ainda melhor.

Por sua vez, a expectativa é de alta de 2,25% no PIB dos Estados Unidos se não houver nenhum desastre também no confronto entre republicanos e democratas. No Japão, após a contração na segunda metade de 2012, a economia pode se beneficiar de mais estímulos fiscais neste ano.

A zona do euro continua a ser o maior peso na economia global. A projeção da contração na zona varia entre 0,2% a até 2%. A proximidade de eleições na Itália e Alemanha é também propícia à falta de ação para resolver a crise da dívida soberana. Angela Merkel é criticada em seu próprio campo por suposta falta de firmeza em relação à periferia europeia, e dificilmente tomará decisão importante antes da eleição de setembro. Na Itália, a eleição em fevereiro traz de novo Silvio Berlusconi na disputa. A Espanha, apesar dos esforços feitos, continua vulnerável no acesso aos mercados e deve manter a austeridade em 2013. Se o custo de seu financiamento aumentar, a possibilidade aumenta de Madri ser forçado a enfim aceitar um pacote de socorro com as condicionalidades que isso implica.

Seja como for, o "Global Monetary Conditions Index", do Royal Bank of Canada (RBC), sugere melhora no PMI global nos próximos meses, empurrada pelas medidas de estímulo monetário adotadas por vários países nos últimos meses.

Parece consenso no mercado que os grandes bancos centrais vão em 2013 ter outro ano de políticas altamente acomodatícias, facilitando a oferta de dinheiro na economia.

A expectativa é de que o Federal Reserve nos EUA continuará fazendo amplas compras de ativos, mas pode atenuar o volume no segundo semestre. O Banco Central Europeu (BCE) continua analisando se faz outro corte de juros. O Banco do Japão poderá ficar sozinho na adoção de novo programa dito inovador de compra de ativos.

A abundante liquidez global continuará a desafiar bancos centrais de emergentes, sobretudo Turquia e Brasil, na avaliação de economistas de vários bancos em Londres.

Para o britânico Barclays, o acordo sobre o "abismo fiscal" nos EUA e a percepção de investidores de risco menor globalmente impulsionam mais fluxo de capitais para mercados emergentes que continuam crescendo também graças ao consumo da classe média.

No momento, o fluxo maior de capital externo tomou o rumo dos mercados de ações principalmente da Coreia do Sul, segundo o banco.

Ao mesmo tempo, ressoa no mercado o alerta sobre risco de guerra cambial feito pelo presidente do BC do Reino Unido, Sir Mervyn King, que foi pródigo em flexibilização monetária. Em dezembro, ele afirmou que uma "gestão ativa de taxa de câmbio" poderia se tornar uma alternativa ao uso de política monetária em 2013.

Para Sir King, as tensões na economia global podem aumentar com muitos países procurando simultaneamente resolver seus problemas econômicos por meio de mais exportações. E com isso, vem o que ele chamou de manipulação cambial para dar vantagem às exportações, num mercado global deprimido.

Esse tema deve ser examinado em fevereiro por ministros de Finanças e presidentes de BCs do G-20, em Moscou. Mas Sir King acha que o G-20 perdeu o senso de objetivo comum.