Carro chinês já tira mercado da Argentina

Autor(es): Marta Watanabe | De São Paulo
Valor Econômico - 08/06/2011

Comércio exterior: Fatia ocupada pelos automóveis da China na importação de modelos pequenos chega a 9%

O fornecimento de automóveis importados para o Brasil passa por uma rápida mudança. Coreanos e chineses avançam enquanto a Argentina perde espaço no fornecimento de veículos ao país.

Os chineses fazem diferença principalmente no desembarque de carros menores, de até 1,5 mil cilindradas e com capacidade para até seis passageiros. Estreando no mercado brasileiro de automóveis, os chineses já representam 9% da importação desse tipo de veículo. No ano passado, a China tinha uma fatia de apenas 0,6%. O avanço chinês nessa categoria acontece mês a mês. No acumulado de março a maio, a fatia da China já salta para 13,6%. No mesmo período do ano passado a participação chinesa era de 0,5%.

Marcas como JAC, Chery e Lifan tiraram o lugar do fornecimento argentino, que era praticamente o único até o ano passado. De janeiro a maio de 2010, a Argentina fornecia 93,3% dos carros importados pelo Brasil na mesma categoria. Nos primeiros cinco meses de 2011, a fatia dos vizinhos caiu para 85,6%. De março a maio, cai um pouco mais, para 82,2%.

De acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), quatro modelos chineses já estão entre os 15 mais emplacados da faixa de carros hatch (sem porta-malas independente) pequenos, no acumulado de janeiro a maio deste ano. O J3, da JAC, o Face e o QQ, da Chery, e o LF320, da Lifan, responderam no período por 4,82% dos emplacamentos desse tipo de carro. As marcas chinesas JAC e Chery foram, em maio, responsáveis por 1,5% dos emplacamentos totais de automóveis e comerciais leves.

Não é só no fornecimento de carros menores, porém, que os asiáticos avançam. Na faixa de carros importados mais potentes, os coreanos tornaram-se o fornecedor mais importante. No acumulado de janeiro a maio eles foram responsáveis por 27,8% dos desembarques de automóveis de até seis passageiros, com potência acima de 1,5 mil cilindradas. A Coreia ficou na frente dos mexicanos, com 24,3%, e dos argentinos, com 21,5%.

A fatia dos coreanos nessa faixa de veículos recuou um pouco no último ano, com queda de 2,2 pontos percentuais no acumulado dos cinco primeiros meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado. Na mesma comparação, México e Alemanha avançaram. Os dois países ampliaram sua fatia em 4,3 pontos percentuais. A grande perda de mercado ficou para a Argentina, que viu sua participação na importação brasileira de carros diminuir 8,3 pontos percentuais, de 29,8% de janeiro a maio do ano passado para 21,5% nos mesmos meses de 2011.

Dados dos últimos meses mostram que a Argentina é o país fornecedor que tem perdido mais espaço na disputa pelo mercado de automóveis importados pelo Brasil. Em maio, quando o governo brasileiro decidiu aplicar o pedido de licença prévia para a importação de veículos e autopeças, a exportação de automóveis da Argentina para o Brasil caiu 13,1% em comparação ao mesmo mês do ano passado. O movimento chama atenção porque teve sentido inverso ao das importações totais de automóveis do Brasil, que cresceram 45,4% no mesmo mês. O cálculo leva em conta os carros de até seis passageiros e de até três mil cilindradas. Esses veículos representam 85% do total de automóveis de passageiros desembarcados no Brasil.

A queda aconteceu em maio, mas na verdade os desembarques de automóveis argentinos no país perderam ritmo antes. A exportação argentina de carros ao Brasil cresceu bem menos que a média de toda a importação brasileira de automóveis em meses anteriores, como março e abril. O desembaraço de veículos da Argentina teve elevação de 10,9% e 52,9% em março e abril, respectivamente, na comparação com os mesmos meses de 2010. A importação total desses automóveis pelo Brasil, porém, cresceu bem mais, com aumento de 36,1% e de 79,1%, respectivamente, na mesma base de comparação.

"Os dados mostram recuo de participação dos carros argentinos no mercado brasileiro", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB). "Isso tem algum impacto da exigência brasileira de licença prévia sobre automóveis, mas está muito mais relacionado ao fato de que os fabricantes asiáticos estão tomando espaço das montadoras mais tradicionais no Brasil." Isso inclui montadoras que instalaram fábricas na Argentina.

O economista Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, explica que o mercado brasileiro de automóveis tornou-se alvo de vários fabricantes. "É uma economia crescente que, além disso, está com uma moeda nacional valorizada em relação ao dólar, o que facilita a exportação para o Brasil como forma de suprir a demanda por diversificação de modelos e marcas", analisa. Esse movimento traz naturalmente, diz, a diversificação de fornecedores externos.

Para Castro, o Brasil já é para os coreanos um mercado de veículos que começa a caminhar para a consolidação. "Para os chineses ainda é um mercado novo, no qual eles ainda estão entrando." Castro acredita, porém, que a entrada dos asiáticos não deve parar por aí. "Por enquanto, o câmbio favorece a exportação ao Brasil. A consolidação de mercado pode acontecer com a instalação de indústrias."

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