Índice de confiança mostra disparidade na indústria

Autor(es): Arícia Martins e João Villaverde | De São Paulo e Brasília
Valor Econômico - 21/06/2011

O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), passou de 57,5 pontos em maio para 57,9 pontos em junho, após quatro meses seguidos de queda. O número ainda aponta otimismo do empresariado, já que, segundo a metodologia da pesquisa, valores acima de 50 pontos indicam empresários confiantes (o indicador varia de zero a cem). A estabilidade mensal, contudo, embute expectativas díspares entre os setores industriais. Dos 30 segmentos pesquisados, 15 elevaram suas expectativas em junho na comparação com maio, um se manteve estável e 14 registraram recuo no indicador, com destaque para o setor de veículos automotores. A confiança da indústria automobilística teve a maior queda de confiança registrada em junho, passando de 56,1 pontos em maio para 51,7 pontos no mês seguinte.

Em relação a junho do ano passado, os 57,9 pontos registrados pelo índice de confiança em junho ficaram 8,1 pontos menor. Quando confrontados com a situação que viviam em janeiro, os industriais continuaram pessimistas. O indicador que compara o cenário atual com o vivido há seis meses manteve-se igual ao do mês de maio, com 44,9 pontos, abaixo da linha divisória dos 50 pontos. Já na construção civil as perspectivas são completamente diferentes - o indicador de confiança passou dos 57,6 pontos em maio para 60,2 pontos neste mês.

Na avaliação da CNI, o índice deve voltar a recuar em julho. Renato da Fonseca, gerente executivo da unidade de pesquisa da CNI, diz que o empresário industrial é o primeiro, na economia, a sinalizar a desaceleração da atividade. Por operar com grandes investimentos em máquina e pessoal mais especializado, afirma o economista da CNI, o industrial responde rapidamente à políticas de aperto monetário e fiscal do governo federal.

Para Rogério César de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), as expectativas do setor automobilístico responderam não só ao aperto no crédito, mas ao ambiente de negócios no qual ele está inserido. "O ar que esse setor respira é o crédito. Isso é um dado muito importante, mas o setor de veículos também está enfrentando uma concorrência muito forte do produto importado". Segundo Souza, as importações devem atingir o dobro do total de exportações em 2011.

Mesmo no setor de máquinas e equipamentos, que mostrou recuperação de um mês para o outro, a percepção do empresariado sobre o ambiente de negócios não é de melhora, comenta Fernando Bueno, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e responsável pela área de economia estatística e competitividade da entidade. "Índices de confiança são pesquisas de opinião, que às vezes são contaminados pelo desejo do empresariado."

Bueno considera difícil que se repita o aumento de 3,3 pontos na confiança da indústria de bens de capital, para 56,2 pontos, após queda de 4,1 pontos entre abril e maio. Conforme prévia da Abimaq, o faturamento das empresas do setor subiu 2,5% na passagem de abril para maio, após ter caído 10,3% no mês anterior. "Ainda é cedo para falar de junho, mas segundo dados preliminares, a tendência não é de reversão [das expectativas do empresariado]. Pode ser que elas não caiam, mas o nosso cenário é o inverso do da CNI", diz.

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