Ministro vê abertura para produtos brasileiros; oposição critica

Autor(es): Caio Junqueira e Tarso Veloso | De Brasília
Valor Econômico - 30/06/2011

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, disse ontem que a fusão das rede varejista brasileira Pão de Açúcar com a francesa Carrefour é estratégica para o país pela possibilidade de ampliar o mercado internacional para produtos nacionais."Esse seria o grande objetivo do governo. Teremos pela primeira vez uma grande cadeia varejista internacional com a presença brasileira para colocar produtos no mercado externo e aumentar nossa capacidade de exportação, justamente no momento em que discutimos a necessidade de diversificar nossa pauta e colocar mais produtos", afirmou, durante audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados.

A ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, porém, fez questão de caracterizar a operação como não sendo do governo. Comentou ontem a fusão afirmando ter sido enorme coincidência que a primeira reunião da Câmara de Gestão do governo, da qual Abilio Diniz faz parte (ele faltou ao encontro), tenha sido feita ontem, em plena repercussão do novo negócio.

"Isso é uma operação enquadrada pelo BNDES, não é uma operação de crédito do BNDES, portanto ela não tem recurso público envolvido nem FGTS nem Tesouro. É o BNDESPar que vai fazer isso, é uma ação de mercado, portanto não tem nada a ver com decisão de governo", disse a ministra Gleisi.

O presidente da Câmara de Gestão, Jorge Gerdau, disse que o assunto não apareceu nos debates de ontem. "Acho que não devemos ficar na análise do Pão de Açúcar, de empresa específica, mas a tendência do mundo é de fusões, pois melhora a capacidade e competitividade para os usuários e benefício e desenvolvimento para o país", disse.

Segundo o ministro Fernando Pimentel disse aos parlamentares, a operação, se for realizada, "tem importância estratégica para o Brasil". "Significaria a associação de um grande grupo nacional com um ou dois grandes grupos estrangeiros, gerando uma nova empresa que abriria uma porta importantíssima para a colocação de produtos brasileiros industrializados no mercado do mundo inteiro", disse. "Aí sim vamos ter uma alavanca fortíssima para nossos laticínios de Minas, de São Paulo, do Rio Grande do Sul, dos produtos industrializados da cadeia do agronegócio", exemplificou.

Ele respondia à indagação feita pelo líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), que criticou a operação. "Quais os benefícios para o país desse aporte de recursos públicos para a iniciativa privada? O Pão de Açúcar vai comprar com 85% ou mais de recursos públicos. É o Brasil que esta pagando. Essa operação se enquadra nas diretrizes da nova política industrial? Por que aplicar recursos dessa monta em um setor varejista já consolidado?"

O deputado apontou que as aquisições já realizadas pelo Pão de Açúcar o fizeram concentrar 30% do mercado. Em decorrência disso, declarou, os fornecedores varejistas perderam poder de negociação, algo que, de acordo com ele, poderia ocorrer como consequência da operação.

Pimentel disse ao tucano estar "do mesmo lado da trincheira no que se refere a defesa do Brasil e do interesse nacional". Evitou, porém, dar maior detalhes da operação, com receio de que, como presidente do conselho de administração do BNDES, uma eventual declaração pudesse implicar em variações na bolsa. "O que posso dizer dessa operação é que não foi realizada ainda. Não há nenhum empréstimo, nem compra de ações do BNDES. Isso está sendo estudado ainda pela direção do banco. Mas não vejo essa operação como fora do comum. Acho que tem méritos se for executada."

Após a fala do ministro, o deputado tucano pediu que ele fizesse "o raciocínio inverso". "Não estamos internacionalizando o Pão de Açúcar. Estaremos desnacionalizando o Pão de Açúcar. E o risco que corremos de colocar produtos brasileiros lá fora é bem menor do que o risco de os produtos importados entrarem no país pelo sócio que está sendo agregado neste instante", afirmou.

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