APP questiona governo sobre certificado de origem para asiáticos

Autor(es): Stella Fontes | De São Paulo
Valor Econômico - 16/06/2011

Dois representantes da direção mundial da Asia Pulp & Paper (APP) estão em Brasília, desde ontem, reunidos com técnicos do governo brasileiro, para pedir explicações acerca da adoção da obrigatoriedade do certificado de origem para o papel produzido na Ásia e exportado para o país. A medida já em vigor, de acordo com a companhia, pode levar à falta de produtos no mercado interno e ao aumento dos preços domésticos dos itens que estão na lista do governo.Uma das cinco maiores produtoras integradas de papel e celulose do mundo, a APP viu suas encomendas no Brasil recuarem 30% em junho, na esteira do cancelamento de pedidos, e a previsão é de que esse índice alcance 60% em julho, em razão do fim da licença automática para a importação de papel cuchê, associada à exigência do certificado de origem antes da produção da mercadoria.

"Queremos entender quais razões levaram o governo brasileiro a exigir o certificado de origem apenas dos produtos asiáticos", afirmou ao Valor o diretor executivo da APP, Rui Zheng. Em maio, o governo extinguiu a licença automática para importação de 17 produtos, que estão sob investigação do Departamento de Defesa Comercial (Decom). A regra acabou atingindo a indústria papeleira por conta de dois processos investigatórios que estão em andamento, relativos ao papel do tipo LWC (cuchê leve) e super calandrado.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), quando se abre investigação dessa natureza, há tendência de antecipação de compra e formação de estoque. Para coibir esse movimento, foi cassada a licença automática. E, com o objetivo de evitar ocorrências de triangulação, o certificado de origem passou a ser obrigatório para países que não estão no alvo das investigações, caso dos asiáticos.

"Os europeus estão praticando dumping no Brasil, não os asiáticos. Não faz sentido que sejamos atingidos", afirmou o diretor corporativo de vendas e marketing da APP, Arvind Gupta, em sua primeira visita ao país. "Não é possível entender o tratamento desigual, já que só o papel vindo da Ásia tem de apresentar o certificado de origem".

Com capacidade de produção de até 8 milhões de toneladas por ano de celulose e 12 milhões de toneladas anuais de papel, a APP, maior fornecedora mundial de papéis finos, também vai mostrar ao governo brasileiro que tem planos de longo prazo para o país. Hoje, todo o volume comercializado no país é importado - em 2010, foram 142 mil toneladas, ante 18,6 mil em 2006, um ano antes da abertura da Cathay, subsidiária brasileira da APP. "Estamos olhando oportunidades desde a área florestal até a industrial", afirmou Zheng.

Conforme o executivo, a companhia, que é uma das maiores compradoras individuais da celulose branqueada de eucalipto brasileira, poderá, no médio prazo, decidir pela construção de uma fábrica da matéria-prima no país ou ainda partir para a produção integrada, com uma máquina de papel. "Podemos começar um projeto do zero, comprar um ativo ou buscar um parceiro estratégico. O que sabemos é que nosso compromisso com o Brasil é de longo prazo", destacou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário, muito obrigado pela sua visita!