G-20 fecha acordo para conter disparada de alimentos

O Globo - 24/06/2011

Plano prevê aumento da produção e acompanhamento dos dados de estoques. Brasil se diz pronto a produzir mais

PARIS. Os ministros da Agricultura do grupo das 20 principais economias mundiais, o G-20, concordaram ontem em adotar medidas para estabilizar os preços dos alimentos. O plano de ação inclui o aumento da capacidade de produção agrícola, elevando a transparência do mercado por meio de uma nova base de dados sobre as reservas globais, e o fim das restrições à exportação de comida para países em dificuldade, afirmou o ministro francês de Agricultura, Bruno Le Maire. Além disso, serão ampliadas as pesquisas sobre novos tipos de trigo.

- Todos nós compreendemos a necessidade de estabelecer normas e regulamentos para os produtos no mercado agrícola - disse Le Maire.

O aumento da produção foi defendido pelo ministro da Agricultura brasileiro, Wagner Rossi. Ele disse à agência France Presse que essa é a melhor maneira de combater a volatilidade dos preços. Segundo Rossi, o problema da especulação deverá ser tratado pelos ministros de Finanças do G-20.

- A agricultura apenas é utilizada pelo mercado para obter ganhos. Se a regulação for necessária, terá que ser feita na área financeira - disse Rossi à agência AFP. - Não sabemos até que ponto incide nos preços, mas é preciso estudar isso.

O ministro ressaltou que o Brasil está pronto para fazer sua parte no acordo:

- Temos mais de 120 milhões de hectares de terras degradadas que podem e devem ser reincorporadas ao processo produtivo e ambiental.

Os membros do G-20 respondem por 85% da produção agrícola global. O acordo prevê uma alta da produção de 70% até 2050, a fim de alimentar mais de 9 bilhões de pessoas.

- Precisamos de mais investimento em agricultura, público e privado, especialmente para países em desenvolvimento - disse Le Maire.

Outro ponto do acordo é o Sistema de Informação do Mercado Agrícola. Este ajudará a impedir as especulações nos preços ao permitir que todos os países acompanhem, de forma instantânea, dados sobre produção e consumo de determinados alimentos, disse o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, que participou do encontro.

- Em 2008 faltou informação sobre a existência e disponibilidade dos alimentos, o que pode criar pânico nos mercados, e o pânico fomenta a alta dos preços - afirmou Zoellick. - Não podemos impedir que os preços dos alimentos oscilem, mas podemos corrigir as oscilações e proteger os pobres.

Influência de biocombustíveis será alvo de análise

Em 2008, a disparada dos preços dos alimentos provocou crises e protestos em vários países em desenvolvimento. Em um sinal da gravidade da crise, é a primeira vez que a agricultura e a segurança alimentar fazem parte da cúpula do G-20. Este ano, os preços das commodities agrícolas voltaram a registrar níveis recordes.

Com relação aos biocombustíveis, a reunião apenas propôs aprofundar os estudos sobre o impacto destes na disponibilidade de alimentos e na volatilidade dos preços. Em 2008, houve muitas críticas à produção de biocombustíveis, que seria um dos responsáveis pela alta dos preços. Nos Estados Unidos, o álcool combustível é produzido com milho.

O grupo ePure, que reúne a indústria europeia de bioetanol, comemorou a decisão, afirmando que o G-20 "acabou com o mito de que os biocombustíveis são responsáveis pela volatilidade dos preços de alimentos".

A ONG britânica Oxfam havia pedido ao G-20 o fim dos subsídios aos biocombustíveis, afirmando que estes elevam os preços das commodities agrícolas. O pedido foi criticado pelo secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack.

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