Quem se importa com o produto nacional?

Autor(es): Joseph Couri
Correio Braziliense - 20/06/2011

Empresário e presidente do Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi-SP) e da Associação Nacional dos Simpi (presidencia@simpi.org.br ou www.simpi.org.br)

Uma lei federal aprovada nos Estados Unidos há mais de 70 anos, intitulada Buy American (Compre América), determina que o governo deve dar preferência em suas compras aos fornecedores de bens e serviços locais. Modificada recentemente, a lei passou a atender duas demandas bem atuais da sociedade de consumo: combater a recessão e tentar impedir a invasão de importados em geral. Isso é apenas um exemplo de que até mesmo a maior potência econômica mundial se preocupa com a concorrência predatória e desleal e com o seu mercado interno.

No Brasil, a invasão de produtos estrangeiros é a maior entre os países do Bric (Brasil, China, Índia e Rússia). Dados recentes da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que o Brasil registrou a maior expansão de importações entre as principais economias nos últimos cinco anos, transformando-se no 20º maior importador do mundo. A participação do Brasil na importação mundial é de 1,3%. Isso se deve ao real supervalorizado e à expansão do consumo doméstico.

Somem-se a isso as empresas que investem em máquinas e equipamentos importados, cujo preço é ilusoriamente metade, porém sem a garantia de peças de reposição e manutenção que, quando solicitadas, geram custos abusivos.

Diante desses dados, devemos comemorar ou lamentar? No mínimo, temos que nos preocupar. Dar preferência aos produtos fabricados no Brasil é um dos caminhos para fortalecer nossa indústria, garantindo mais produtividade e tornando-a competitiva. Quem duvida da nossa capacidade de desenvolver novas tecnologias e produtos desconhece realizações brasileiras como a urna eletrônica, o identificador de chamadas telefônicas e o próprio etanol.

O Brasil, que caminha para ser um dos maiores exportadores de commodities do mundo, com quase 70% do total, deve começar a reorientar sua política para produtos com maior valor agregado. Hoje compramos manufaturados (muitos de qualidade duvidosa) e exportamos commodities (matérias-primas).

Por isso, uma das principais organizações que representam as micro e pequenas indústrias, o Simpi (Sindicato das Micros e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo), iniciou um movimento chamado Made in Brasil" (assim mesmo, com "S") — "Compre produtos fabricados no Brasil: o mercado interno cresce, sua empresa agradece e seu emprego permanece".

É preciso agregar valor ao nosso sistema produtivo, qualificar o micro e pequeno empresário, estimular a inovação, oferecer e facilitar o acesso ao crédito, criando um ambiente competitivo para a indústria no país. É urgente a implementação de políticas específicas para proteger o mercado interno, aumentar o poder de compra e, principalmente, criar mais empregos para absorver o crescimento demográfico das novas gerações.

E gerar emprego é uma das vocações das micro e pequenas empresas, que já demonstraram ser eficiente escudo anticrise. Juntas, elas somam mais de 6,8 milhões de empresas formais e estimam-se em 10 milhões as informais, sendo que as formais são responsáveis por 60% dos empregos diretos, 30% do PIB, 2% das exportações e 13% do fornecimento para o governo.

No auge da crise global, em 2009, as micros e pequenas criaram 1,02 milhão de empregos, ou seja, 91% do total de empregos criados no país.

Quando o consumidor opta por um produto importado de qualidade e preço inferior, em detrimento do nacional, pode literalmente pagar caro por isso. Em casos extremos, com o próprio emprego. O que é atraente e imbatível em termos de preço no exterior, não raro esconde salários mensais de US$ 30 (algo em torno de R$ 50), péssimas condições, agressões ao meio ambiente e trabalho infantil.

Ao contrário, priorizar a indústria instalada no Brasil garante que a economia vai continuar crescendo de forma sustentável, com mais emprego e renda, que nossas empresas vão ganhar escala e competitividade para aumentar sua participação no mercado externo, que as micros se tornem pequenas, que as pequenas se tornem médias, que as médias se tornem grandes e que estas se tornem múltis brasileiras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário, muito obrigado pela sua visita!