Alberto Tamer - Alberto Tamer
O Estado de S. Paulo - 05/06/2011
A notícia boa da semana é que a economia brasileira está desacelerando lentamente.
A ruim, é que os Estados Unidos também estão. O Brasil pode conter a inflação. Os EUA devem inundar ainda mais o mercado com dólares. Desvalorizada, a moeda americana corre para mercados mais rentáveis e líquidos, como o Brasil.
Aqui, juro alto e restrições ao crédito estão contendo a demanda e a inflação. Lá, mesmo com estímulos, ela definha. O desemprego nos Estados Unidos aumentou, agora para 9,1% da força de trabalho, e o PIB encolheu, o que deve levar o banco central americano a manter a atual politica de injeção de liquidez. Dinheiro em excesso que deve afluir para o Brasil. A consequência é um duplo efeito negativo.
O primeiro é valorizar ainda mais internamente o real; o segundo é levar os investidores, financeiros ou diretos, a se voltarem ainda mais para o mercado brasileiro, onde taxas superiores a 10% oferecem um rendimento excepcional, atrativo, líquido e seguro em títulos do governo.
É um cenário desconfortável de juros altos e dólares se desvalorizando lá fora e no Brasil. Isso poderá trazer sérios problemas e provocar um crescimento desequilibrado no Brasil em que a indústria que gera empregos recua e o setor de produtos básicos avança.
Os indicadores desta semana mostram que a economia americana está parando.
Mais dólares. Diante disso, o Fed pode prorrogar o prazo de injeção de liquidez, que termina no fim do mês. Jogará direta ou indiretamente mais dólares no mercado financeiro internacional.
Até agora, já foram US$ 2 trilhões que inundaram o mercado mundial, escorrendo para países que vão bem, rendem mais e são seguros, ou outra medida que tenha efeito semelhante.
Ao mesmo tempo, o recuo da moeda americana, agora mais acentuado, será maior no Brasil, onde o real já está sendo valorizado por crescentes investimentos financeiros ou diretos. Isso vai prejudicar ainda mais a produção da indústria nacional, já deslocada pela competição externa.
É um duplo efeito, dólar e câmbio, altamente negativo para o setor que mais cria empregos no País.
Ora, as commodities. Outra agravante: o Brasil aumentará sua dependência do aumento das exportações de commodities, hoje quase 50% do total. Os preços são altos, mas podem se retrair se a economias americana e europeia crescerem apenas em torno de 2% este ano. Todo mundo desacelera, até o Brasil. A economia mundial se adapta a um crescimento menor.
O resultado é que o comércio mundial não deverá se expandir ao ritmo previsto pela OMC de 22%, mas será ocupado pela China, pelos Estados Unidos e pela Europa, que não têm para onde crescer, e contam com moedas desvalorizadas diante do real...
Pode mudar? Tudo indica que não. Com a nova situação nos Estados Unidos, vão entrar mais dólares porque a inflação ainda está alta e o BC não vai reduzir o juro, que, por sua vez, atrai ainda mais capitais externos, financeiros ou não. E tem ainda os dólares da balança comercial decorrentes das commodities, e o superávit de quase US$ 9 bilhões, e a chegada dos chineses.... É muito dólar!
Brasil é "o cara". O Brasil está sendo nos últimos anos um dos países mais atraentes para os investidores externos, financeiros ou não. Cresce sustentado por um mercado interno vigoroso com grande potencial de expansão, e tem economia mais saudável que a de outros países.
E por que reclamar? A coluna não reclama. Lembra apenas que esse cenário interno positivo contrasta agora ainda mais com o externo negativo, agravado agora por excesso de liquidez gerado pelo Fed e - por que não? - o Banco Central Europeu às voltas com os seus títulos duvidosos. Agora, vai engolir mais da Grécia. O governo deve ir se preparando para conter esse afluxo de investimentos, agora com a aprovação do FMI, e absorver esses dólares.
O que há de mal nisso. Apenas que o governo já acumula mais de US$ 300 bilhões de reservas - US$ 30 bilhões a mais nos últimos cinco meses e igual à que tinha em 2002. E, para não jogar reais no mercado interno, só pode fazer isso, emitindo e vendendo títulos, pagando os altos juros do mercado, para comprar esses dólares, aumentando reservas e dívida.
Toma que o dólar é teu. E daí? Daí que quem investe essas reservas, esses dólares, no exterior, principalmente em papéis americanos, não tem muito aonde ir. E vai ter que continuar fazendo isso, trocando reservas cambiais por divida interna.
Não há muita saída, além de assumir prejuízos da diferença de juros e desvalorização do dólar, enquanto os Estados Unidos e a Europa não se recuperarem. E isso mesmo porque o BC e o governo vão continuar aceitando juros altos que seguram a inflação mas atraem mais dólares.
Se servir do consolo, não somos somente nós, não. Os países emergentes acumulam reservas de US$ 4 trilhões, a maior parte aplicada em papéis americanos com rendimento irrisório, e em dólares que vão se desvalorizar ainda mas com a desaceleração americana. Só que pagam juro baixo e têm moeda desvalorizada. O Brasil, não.
Eles, como nós, trocam reservas por dívida interna. A diferença é que pagamos juros altos e temos um real valorizado. Eles, não.
Fazer o quê? No Brasil não são as dores do parto, que já passaram, mas da adolescência de uma economia que amadurece aos poucos e só agora começa descobrir o mundo... Como no caso dos jovens, basta seguir o bom caminho.
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