Mercado de câmbio "trava" e pesa no bolso do exportador

Autor(es): Lucinda Pinto, Eduardo Campos e Vinícius Pinheiro | De São Paulo
Valor Econômico - 29/07/2011

As dúvidas sobre como o pacote cambial será implementado continuam pesando sobre o mercado, travando os negócios e deixando as operações mais caras. Enquanto não fica claro como será feita a contabilização da exposição cambial a ser tributada, o mercado prefere não operar. E, quem não pode deixar de fechar um contrato, paga mais caro.

Sobre a cotação, entretanto, o impacto do novo arsenal adotado pelo governo foi considerado ainda modesto. O dólar comercial subiu 0,57% para R$ 1,566, em um dia em que o dólar subiu frente a outras moedas globais por causa do impasse em torno da dívida americana.

Segundo relatos de profissionais nas mesas de câmbio, os bancos já estão repassando para seus clientes o custo que terão com a incidência de 1% de IOF sobre posições vendidas assumidas por meio de contratos de derivativos. Esse repasse acaba afetando todo tipo de operação, inclusive os contratos à vista e de ACC (Antecipação de Contrato de Câmbio), instrumentos utilizados pelos exportadores. Para zerar uma compra de dólares de um exportador, o banco, em geral, tem de recorrer ao mercado futuro. E aí ele pagará o IOF. "A reação natural, portanto, é embutir o custo maior em todo tipo de contrato cambial", explica um operador de um grande banco de varejo.Essa estratégia foi sentida no bolso de uma comercializadora ligada ao setor de agronegócio. As cotações para a venda da moeda americana oferecidas pelos bancos nos últimos dois dias têm ficado muito abaixo das praticadas pelo mercado, segundo um operador dessa empresa. "Antes das medidas, era possível conseguir taxas até superiores", compara.

Quando o assunto é derivativos, a paradeira é ainda mais evidente. Além do custo mais alto, a dúvida sobre qual será o padrão a ser adotado para a definição de preços de opções de câmbio deixa o investidor retraído. Atualmente, cada instituição adota um modelo diferente para determinar o preço antes do vencimento do contrato e, com a medida, será preciso padronizar esse processo.

Segundo um banco estrangeiro, o volume de transações com derivativos da instituição no Brasil no pregão de ontem foi próximo ao realizado no Chile ou na Colômbia - mercados que movimentam, normalmente, um décimo do volume de negócios aqui.

Outro termômetro da distorção é o grande aumento da diferença de preço entre cotações à vista e futuro.

Outro mercado afetado é o "casado", que é o dólar pronto contra o futuro. Só há liquidez em uma das pontas, a de venda de dólar à vista e compra de futuro. A ponta inversa (compra dólar à vista e venda de dólar futuro) está praticamente parada, pois ninguém quer se arriscar na venda de moeda futura em função do IOF que passou a ser cobrado.

Esses custos e a falta de liquidez em algumas modalidades cambiais já levam o mercado a um tipo de retrocesso. Os agentes voltaram a casar entradas e remessas em vez de cotar as operações no mercado.

Um exemplo prático é que, no caso de uma exportação no valor de US$ 100 milhões, antes o banco dava um preço cotado no mercado e fechava a operação. Agora, vai em busca de um parte que esteja precisando de US$ 100 milhões para fechar a operação. Dessa forma, as duas operações transitam apenas no câmbio à vista e ninguém se expõem à nova regulação que ainda precisa ser detalhada.

Diante desse ambiente de apreensão, o Goldman Sachs reduziu a recomendação para as ações da BM&FBovespa de "compra" para "neutro". Para o banco, a taxação sobre os derivativos cambiais deve ter um efeito negativo imediato nas negociações, que nos cálculos do banco representam 14% da receita bruta da bolsa.

Os analistas do Goldman acreditam que o potencial para novas intervenções após a edição da Medida Provisória que amplia os poderes do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre o mercado de derivativos é uma ameaça significativa para as operações da BM&FBovespa.

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