Prejuízos com barreiras argentinas somam pelo menos US$100 milhões

Autor(es): Wagner Gomes
O Globo - 23/07/2011

Só o setor de calçados espera a liberação de 600 mil pares na alfândega

SÃO PAULO. O prejuízo dos produtores brasileiros com as barreiras impostas pela Argentina a novas importações já chega a pelo menos US$100 milhões, segundo avaliação de especialistas de mercado. Só o setor de calçados diz ter 600 mil pares aguardando liberação na alfândega do país vizinho por mais de 60 dias, o que corresponde a uma receita de US$11 milhões. Fabricantes de produtos têxteis reclamam de prejuízos de US$10 milhões, e produtores de balas e chocolates, de outros US$6,5 milhões. Há perdas também na indústria automobilística, que está com problemas para exportar máquinas agrícolas (tratores e colheitadeiras), linha branca, papel e celulose e móveis.

Apesar dos acenos de boa vontade das duas partes, um sinal de que a crise está longe de ser resolvida veio dos produtores de carne suína da Argentina. Eles prometem bloquear duas pontes que ligam o país ao Brasil para impedir a passagem da carne suína brasileira.

- A Argentina adota medidas arbitrárias e protecionistas - reclama Lúcia Maduro, consultora de negócios internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Segundo os brasileiros, a Argentina não tem respeitado acordos fechados para a exportação e importação de produtos. O número de medidas protecionistas, em especial as licenças não automáticas (LNAs), subiu de 58 produtos em 2007 para quase 600 em 2011. A nova lista foi divulgada em março. Em retaliação, o Brasil impôs em maio restrição à entrada de carros argentinos no país. Com a salvaguarda, o desembaraço de veículos no porto chega a 60 dias.

- O setor automotivo representa de 23% a 25% do comércio bilateral Brasil/Argentina. Não é bom para nenhum dos dois países que esse impasse continue - diz uma fonte do setor.

Eleições argentinas dificultam negociações

Os dois países têm conversado sobre o assunto, porém é consenso que um acordo será difícil às vésperas da eleição na Argentina. José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), disse que um acordo que favoreça o Brasil não seria bem visto pelos argentinos neste momento. Para ele, as medidas de protecionismo da Argentina não são nada mais do que tentativas do país vizinho de atrair investimentos.

A Abicalçados, associação que representa as fabricantes de calçados, anunciou que vem cumprindo o acordo fechado com a Argentina de exportação de 15 milhões de pares por ano. Mesmo assim, os calçados entraram na lista de produtos sem licença automática. Os empresários brasileiros disseram que têm perdido espaço para os produtos asiáticos, que chegam mais baratos à Argentina. De 15 a 20 empresas brasileiras exportam regularmente para o país vizinho. Desde fevereiro, existem calçados parados na alfândega esperando licença para serem vendidos na Argentina, segundo a entidade.

A indústria têxtil também registra prejuízo. Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), disse que a quantidade de produtos presos no porto esperando liberação desfavorece o ambiente comercial. Ele afirmou que há 5 anos o Brasil respondia por 50% das importações de produtos têxteis feitas pela Argentina. Esse percentual caiu para 25%. Já a China cresceu na mesma proporção e hoje divide o comércio com o Brasil.

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