CAEM OFERTA E DEMANDA DE CRÉDITO À EXPORTAÇÃO

VOLATILIDADE NO CÂMBIO E EUROPA DERRUBAM CRÉDITO À EXPORTAÇÃO
Autor(es): Por Fernando Travaglini | De São Paulo
Valor Econômico - 16/11/2011

O financiamento à exportação caiu quase pela metade na última semana de outubro e na primeira de novembro. A média diária de concessões de Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC) recuou de US$ 251 milhões, em setembro, para US$ 142 milhões no começo deste mês, segundo dados do Banco Central (BC). Os bancos europeus, ameaçados pela crise das dívidas soberanas na zona do euro, estão reduzindo o funding das linhas externas, mas até agora esse movimento contracionista, que deve prosseguir, foi contrabalançado por uma demanda menor de recursos por parte das empresas, motivada pela volatilidade do dólar. Os principais bancos estrangeiros que fornecem linhas de "trade finance" ao Brasil estão localizados na Europa e EUA. Os bancos europeus estão mais seletivos, segundo executivos ouvidos pelo Valor. Mas até agora a redução foi suave e não pode ser comparada à severa falta de liquidez durante a crise de 2008, afirmam fontes de grandes bancos.

O financiamento à exportação caiu quase pela metade na última semana de outubro e na primeira de novembro. A média diária de concessão de Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC) recuou do patamar de US$ 251 milhões, em setembro, para US$ 142 milhões no começo deste mês, segundo dados do Banco Central (BC).

A queda, de 43%, decorre em parte da redução do funding de linhas externas, especialmente de bancos europeus, que ocorre há pelo menos dois meses. Mas o fator de maior peso, dizem executivos da área, é a menor demanda por parte das empresas, em função da volatilidade do dólar.

As companhias brasileiras aproveitaram o momento de real mais fraco, em setembro, quando a cotação da moeda americana foi a R$ 1,95, para antecipar os contratos de ACC. A média diária daquele mês foi a segunda mais alta do ano.

Os exportadores ampliaram o endividamento mas, na sequência, com a perda de força do dólar em outubro, as companhias reduziram o ímpeto e diminuíram a procura por essas linhas - em geral feitas em dólar, com prazos entre seis e doze meses.

Agora, há uma certa expectativa de que a moeda brasileira possa voltar a se depreciar no curto prazo, trazendo nova oportunidade de fechar os contratos de câmbio em um nível mais favorável para o exportador mais adiante. Isso também ajudaria a explicar o freio verificado nas últimas semanas.

Mas não se pode descartar o efeito da crise. As linhas externas em dólares para alimentar os bancos brasileiros ficaram mais escassas com as turbulências que vêm da Europa. Os principais bancos estrangeiros que fornecem ao Brasil linhas de "trade finance" estão localizados no Velho Continente, além dos Estados Unidos.

Especialmente os europeus estão mais seletivos, segundo executivos ouvidos pelo Valor. A redução, entretanto, não pode ser comparada à falta de liquidez enfrentada durante a crise de 2008, garantem esses mesmos executivos de grandes bancos.

Mesmo com o recuo recente, o ACC deve terminar o ano no maior patamar da história, ultrapassando o nível pré-crise. O volume total concedido em 2011 chegou a US$ 45,2 bilhões, no dia 4 de novembro, cerca de US$ 1 bilhão abaixo do fechamento de 2007 (US$ 46,2 bilhões), maior valor até então - de acordo com a série do BC, iniciada em 1993.

O crescimento dessas linhas no ano, até agora, é de 45%, já que no mesmo período do ano passado o total liberado pelos bancos para os exportadores havia sido de US$ 31 bilhões. Não por acaso, o Banco do Brasil, que detém um terço do mercado, bate seu recorde histórico no ano. O BB concedeu, até o início deste mês, US$ 15,5 bilhões em ACC, já superando o volume total de 2007, o melhor ano até então. "O crescimento foi vigoroso", disse Allan Toledo, vice-presidente do banco.

Ele acredita que a instituição feche o ano ao redor de US$ 17 bilhões, mas reconhece que o ritmo arrefeceu nas últimas semanas. "A média diária reduziu um pouco nos últimos dias", diz Toledo. "Mas o que caiu foi a demanda das empresas", completa.

Segundo ele, quando o dólar chegou a R$ 1,8, as empresas correram para fechar muitos contratos. É natural que na sequência haja um recuo, diz, até porque há muita volatilidade no câmbio. "Se o exportador acha que o dólar pode subir, ele espera um pouco para fechar um ACC." Ele ressalta, no entanto, que não faltam linhas externas para o Brasil. "Temos disponibilidade. Nossa captação cresceu muito em moeda estrangeira. Não faltam recursos para o exportador brasileiro", garante Toledo.

Segundo Desmond Wee, superintendente de comércio internacional do HSBC, as companhias estão de fato mais cautelosas, dadas as incertezas na Europa. Mas o banco não reduziu seu apetite de crédito. "Esse é o momento para ampliar o relacionamento com as empresas", diz o executivo, recém-chegado ao Brasil, vindo de Hong Kong.

Tarcisio Rodrigues Joaquim, diretor de câmbio do Banco Paulista, também pondera que a crise econômica atingiu principalmente Europa e Estados Unidos, grandes parceiros comerciais do país, e isso deve diminuir a demanda externa. Ele lembra ainda que os preços das commodities estão em queda. "Apesar do ajuste do câmbio, ocasionado por fatores externos, houve uma queda no preço das commodities, principal fonte de faturamento das exportações brasileiras", avalia Joaquim.

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