Governo usará embaixadas em ofensiva comercial

Autor(es): Por Daniel Rittner | De Brasília
Valor Econômico - 14/11/2011

O Itamaraty pretende reforçar a estrutura de promoção comercial das embaixadas e consulados brasileiros no exterior. Um plano traçado para os próximos quatro anos prevê a abertura de 34 núcleos, em pelo menos 23 países, dedicados exclusivamente à divulgação de produtos brasileiros nesses mercados.

A prioridade será dada a países emergentes. África e Ásia, por exemplo, podem receber até 20 unidades. Cada núcleo - conhecido dentro das representações diplomáticas como setor comercial (Secom) - contempla a contratação de um ou mais funcionários especializados no mercado local.

O plano do Itamaraty é abrir essas unidades no período de 2012 a 2015. Já em 2011 estão em processo de criação 16 setores comerciais, em cidades como Cantão (China), Dubai (Emirados Árabes), Istambul (Turquia), Doha (Catar), Lagos (Nigéria) e Cidade do Cabo (África do Sul).

Nenhuma embaixada deixa de fazer atualmente a divulgação de produtos brasileiros no exterior, conforme explica Rubens Gama, diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos (DPR) do Ministério das Relações Exteriores. "Mas as representações diplomáticas têm várias outras tarefas, como atribuições políticas e consulares. Objetivamente, ter um Secom significa contar com pelo menos um funcionário em dedicação exclusiva para a promoção comercial."

Para definir os países e as cidades que receberão os novos núcleos o Itamaraty fez um levantamento com base em três variáveis: os principais destinos de exportações brasileiras onde ainda não há um setor comercial; os países com maiores expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no período 2005-2014; e países com forte demanda potencial de produtos da pauta exportadora brasileira.

O cruzamento das três variáveis resultou em uma lista de 50 prioridades para a abertura de novos setores comerciais. Para o período 2012-2015 estão na lista representações em mercados tradicionais, como Boston (Estados Unidos), Munique (Alemanha) e Mendoza (Argentina). Mas o maior foco está nos emergentes - além da África e da Ásia, o Leste Europeu é contemplado com Secoms em capitais como Bucareste (Romênia) e Zagreb (Croácia).

Rubens Gama esclarece que não há custo adicional com a instalação física dos núcleos, pois eles funcionam dentro das próprias representações diplomáticas, mas admite que será preciso "fazer mais com o mesmo": o orçamento da área neste ano, em torno de US$ 20 milhões, foi basicamente igual ao de 2010 e será parecido ao de 2012. As despesas com a contratação dos técnicos especializados também saem do orçamento geral do ministério, sem onerar especificamente o departamento, que gasta seus recursos em atividades como missões comerciais, seminários para atrair investimentos, rodadas de negócios e montagem de estandes em feiras internacionais.

Para otimizar os gastos, Gama afirma que será preciso fazer alguns ajustes. Um deles ocorrerá em decorrência da própria diferença de estilo entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Lula gostava de carregar levas de empresários em suas viagens mais importantes ao exterior, estimulando a realização de eventos corporativos paralelos. Dilma não é afeita a grandes comitivas. Ao reduzir a participação de empresários nas visitas oficiais, sobra dinheiro para outras iniciativas.

Outro ajuste é produto da redistribuição de prioridades dos setores comerciais já existentes, com o fortalecimento das equipes de promoção nos emergentes. "Os mercados tradicionais, para onde sempre vendemos, estão em crise ou cheios de barreiras", diz Gama. Algumas embaixadas em países europeus que sequer estão entre os 20 maiores destinos das exportações brasileiras ainda têm quatro funcionários especializados em promoção comercial. Já o consulado em Xangai, na China, tem apenas um técnico. Detalhe: só de setembro para cá, Xangai recebeu uma missão de industriais pernambucanos, outra missão de empresários goianos, a visita do ministro-chefe da Secretaria de Portos com 70 executivos e participantes de uma feira de alimentos.

Com a expansão dos setores comerciais nas embaixadas e consulados, o Itamaraty pretende aumentar em 40% a rede de importadores cadastrados no BrasilGlobalNet, uma espécie de bancos de dados, montado pelas representações diplomáticas brasileiras, sobre potenciais clientes para as empresas nacionais. Com 46,6 mil importadores registrados atualmente, a meta é chegar a pouco mais de 65 mil firmas em 2015. Gama diz ainda que o DPR está perto de fechar dois convênios, com universidades brasileiras, para oferecer cursos à distância em técnicas de vendas e promoção comercial.

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