Mercado exportador

Autor(es): Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo
Valor Econômico - 30/11/2011

Depois de 18 anos desenvolvendo softwares de gestão para o setor de confecção no Brasil, a Millennium, criada no bairro paulistano do Brás, decidiu cruzar fronteiras. Há um ano, iniciou exportações para a Argentina, Colômbia e Paraguai. "Cerca de 5% do faturamento vêm da exportação, mas é um valor em crescimento", afirma o diretor Rodrigo Motono, sem medo da recessão internacional.

A empresa de 200 funcionários faturou R$ 8 milhões em 2010 e planeja fechar 2011 com R$ 10 milhões de faturamento. "Investimos mais de R$ 250 mil na tropicalização dos produtos, traduções e adequação aos modelos fiscais de cada país", afirma.

A empresa de TI se insere na balança comercial positiva do Brasil que, segundo projeções do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), deve encerrar 2011 com US$ 257 bilhões em exportações. No primeiro semestre, a previsão era de US$ 228 bilhões. Os números refletem um intercâmbio comercial de US$ 480 bilhões no ano.

A participação das pequenas empresas nas exportações brasileiras ainda é pouco expressiva. Em 2010, situou-se em 1% em valor, ou cerca de US$ 2 bilhões, um crescimento de 7,6% ante o ano anterior. Cada pequeno negócio exportou, em média, US$ 171 mil em 2010, 10,5% a mais do que em 2009.

Para 2012, com o forte incremento da demanda doméstica - novos consumidores, megaeventos esportivos e investimentos públicos - e a menor procura externa, influenciada pelos entraves econômicos internacionais, a tendência entre os pequenos empreendimentos é manter a fatia de 1% de participação nas exportações ou até mesmo reduzi-la, segundo Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O número de pequenas e microempresas exportadoras manteve-se quase estável de 2009 para 2010, próximo a 12 mil companhias.

Até outubro, a balança comercial brasileira registrou recordes no acumulado de 2011 para a exportação, com US$ 212,1 bilhões, um salto de 29,3% da média diária sobre igual período do ano passado. A importação bateu nos US$ 186,8 bilhões, com aumento de 24,9% ante o mesmo período de 2010, com a corrente de comércio somando US$ 398,9 bilhões, alta de 27,2%.

Para analistas, por conta dos baques financeiros nos países desenvolvidos, os empreendedores terão um 2012 pra lá de desafiador. Será preciso investir em ferramentas de gestão, diferenciação de produtos e busca de mercados alternativos, como Ásia e África.

"O carro-chefe das exportações continua sendo as commodities, além de automóveis e aeronaves", explica Santos. "Mas, em 2011, os pequenos negócios tiveram participação expressiva em segmentos como moda, frutas, softwares, joias e bijuterias, além de produtos orgânicos."

Para José Luiz Rossi Jr., professor de economia do Insper e membro da equipe responsável pelo Índice de Confiança de Pequenos e Médios Negócios (IC-PMN), 2012 promete ser um ano difícil para as pequenas exportadoras. "O crescimento mundial será baixo, com vários países em recessão, e os asiáticos devem ser o foco das empresas, com China e Coreia do Sul como alternativas."

Para Santos, do Sebrae, diante da crise, a diferenciação dos produtos será essencial para os pequenos negócios. "Mercadorias com a marca Brasil, em setores como moda, frutas, bebidas e produtos orgânicos, além de tecnologia da informação (TI) têm potencial de aumento nas vendas externas."

Hoje, as micro e pequenas exportadoras estão distribuídas em setores como a indústria, com 58,7% do total; comércio (34,9%) e construção civil (4,7%), além da agropecuária (1,4%) e serviços (0,3%).

Nos últimos anos, as exportações das empresas de menor porte apresentaram uma mudança na composição dos mercados de destino. Houve queda no Mercosul e União Europeia e aumento de negócios nos mercados Ásia-Pacífico e América Latina. "A África aparece como mercado emergente."

Desde a semana passada, uma missão comercial com 53 empresas brasileiras, organizada pelo MDIC e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), visita potenciais compradores em Moçambique, Angola e África do Sul. A estimativa é que sejam gerados US$ 70 milhões em negócios nos próximos 12 meses. "A palavra chave para exportar mais é competitividade", afirma Rogério Bellini, diretor de negócios da Apex-Brasil. "A pequena empresa deve sempre melhorar processos, produtos e gestão."

Foi o que fez a destilaria mineira Dedo de Prosa para ampliar o faturamento em dólares. A empresa de 19 funcionários decidiu investir na normatização e certificação de produtos e passou a exportar para a Suécia, Angola e EUA. Com uma produção de 50 mil litros de cachaça ao ano, vai fornecer a bebida para uma rede de 100 bares na Coreia do Sul, a partir de janeiro de 2012. "A certificação foi fundamental para entrar no mercado externo", afirma o gerente Décio Dias.

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