Especulação empurra dólar para perto de R$1,90

Autor(es): Vinicius Neder
O Globo - 25/11/2011

Cotação chega a subir 2,3%, mas fecha em R$1,892, maior patamar desde 3 de outubro. Bovespa sobe 0,56%

RIO e NOVA YORK. O dólar comercial registrou ontem a segunda forte alta seguida e avançou 1,72%, a R$1,892, maior cotação desde 3 de outubro, em mais um dia de pessimismo entre investidores por causa da crise das dívidas soberanas na Europa e da especulação no mercado futuro de câmbio. Durante o pregão, a cotação chegou a passar de R$1,90, subindo 2,36% na máxima do dia. Na semana, a moeda já acumula alta de 6,11% e, no mês, 11,03%.

- Com as bolsas da Europa em queda, o ambiente fica propício para a especulação com as moedas - diz o diretor de Tesouraria do Banco Prosper, Jorge Knauer.

Segundo operadores do mercado de câmbio, a especulação que marcou os pregões dos dois últimos dias partiu de investidores que estavam apostando na queda do dólar (com aplicações em contratos de venda de dólar, ou seja, com posição vendida, no jargão do mercado) na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Com a piora no cenário internacional dos últimos dias, estes investidores estariam passando a apostar na alta, aumentando, assim, a procura por contratos de compra - em que se comprometem a adquirir a moeda a um valor predeterminado.

Esses movimentos fizeram o real ser a moeda que mais desvalorizou frente ao dólar pelo segundo dia seguido. Enquanto o rand sul-africano e o dólar australiano se recuperaram ontem, com o dólar caindo 1,27% na África do Sul e 0,40% na Austrália, o peso mexicano e o won sul-coreano perderam bem menos: a moeda americana subiu 0,16% no México e 0,60% na Coreia do Sul.

Cobrança de IOF causa desequilíbrio, diz analista

Alfredo Barbutti, economista da corretora BGC/Liquidez, vê investidores que apostavam na queda do dólar acionando ordens de stop losses (desfazendo-se automaticamente de suas posições para evitar maiores perdas), o que potencializou a alta. O dólar estava subindo aos poucos desde o início do mês, mas, nesta semana teria havido intensificação dessas ordens.

O economista lembra que, até domingo, apenas a Europa estava no radar dos investidores, mas o fracasso das negociações do comitê do Congresso americano que debate formas de diminuir o déficit fiscal dos EUA piorou o cenário. Sem soluções à vista na Europa, para Barbutti, as apostas na queda do dólar estão perdendo , independentemente do tipo de investidor. Anteontem, a posição vendida dos bancos estava em US$7,8 bilhões, somando-se os mercados de cupom cambial (que inclui juros) e dólar futuro.

Já Knauer, do Banco Prosper, vê investidores também passando a apostar na alta da moeda americana. O mercado está propício para isso, completa ele, porque a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre as posições vendidas provoca desequilíbrios. E o Banco Central não atuou para corrigir esse desequilíbrio.

- Por causa do imposto, faltam vendedores num dia como hoje - diz Knaeur.

O dia nos mercados globais foi marcado pelo reforço da posição contrária da Alemanha à proposta de emissão de títulos de dívida comuns a toda a zona do euro. Com isso, as bolsas de valores da Europa não sustentaram as altas do início dos pregões. Londres recuou 0,24%; Paris ficou estável, perdendo 0,01%; Frankfurt recuou 0,54%; e Milão ficou estável, com alta de 0,03%.

Varejo e construção em alta na Bolsa paulista

Num dia de poucos negócios, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo, subiu 0,56%, aos 55.279 pontos, com giro financeiro de apenas R$2,9 bilhões. Foi a primeira alta do índice após cinco pregões de queda. O baixo volume de negócios está relacionado ao fechamento dos mercados dos Estados Unidos, por causa do feriado do Dia de Ação de Graças. Hoje, os pregões americanos funcionarão em horário reduzido.

No movimento das ações, subiram os papéis das empresas voltadas para o mercado interno, como os setores de varejo e construção, e perderam as companhias com negócios no exterior. A maior alta do Ibovespa foi Pão de Açúcar PN (preferencial, sem direito a voto), com avanço de 5,56%, a R$62,89.

- O governo tem sinalizado que estimulará a economia e o ambiente externo está muito ruim, então as empresas voltadas para o mercado externo sofrem e as focadas no consumo interno são favorecidas - explica Hersz Ferman, gestor de renda variável da Yield Capital.

No lado da baixa, o destaque foi o setor siderúrgico. Caíram Usiminas PNA (-3,49%, a R$10,51), CSN ON (-2.07%, a R$14,19) e Gerdau PN (-1,11%, a R$13,37). Fora do Ibovespa, os papéis ON da fabricante de equipamentos para a indústria de petróleo Lupatech despencaram 25,81%, a R$3,45, após o tombo de 19,55% anteontem. No ano, a queda já é de 82,11%, segunda maior de toda a Bolsa. O risco de a empresa não ter caixa para pagar sua dívida está assustando investidores.

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