Autor(es): » Tatiana Sabadini
Correio Braziliense - 01/06/2011
Contaminação de vegetais por bactéria letal provoca alerta sanitário e disputas diplomáticas e comerciais
A rápida multiplicação dos casos de contaminação por uma variante rara e agressiva da bactéria Escherichia coli, que se alastra da Alemanha por outros países, começa a provocar ruídos diplomáticos e disputas comerciais na Europa. Nos últimos três dias, a síndrome hemolítico-urêmica tinha causado até ontem 15 mortes, 352 ocorrências consideradas graves e milhares de incidências mais leves.
As suspeitas iniciais sobre a origem do contágio recaíram sobre pepinos colhidos na Espanha, a partir dos resultados de um teste realizado por um laboratório alemão. Nove países impuseram restrições à importação de vegetais espanhóis e o governo de Madri protestou contra a Alemanha, que ontem divulgou o resultado de novas investigações, segundo as quais a contaminação poderia não ter ocorrido na Espanha — cujos agricultores já reclamam reparação pelas perdas que sofreram.
Na quinta-feira passada, autoridades do norte da Alemanha, onde foram registrados muitos casos da infecção, anunciaram a descoberta da E. coli do tipo EHEC em três pepinos espanhóis. As amostras revelavam que as hortaliças poderiam ter deflagrado a síndrome. Alemanha França, Itália, Holanda, Dinamarca, Áustria, República Tcheca, Suécia e Dinamarca proibiram, total ou parcialmente, a importação de vegetais espanhóis. Porém, novas provas constataram que a variante era distinta da que causou a doença.
Em meio à crise, os ministros da Agricultura dos 27 países-membros da União Europeia (UE) se reuniram para discutir formas de lidar com o surto. O governo alemão tentou amenizar o desconforto diplomático. “A Alemanha reconhece que os pepinos espanhóis não são a causa”, afirmou o secretário de Estado de Agricultura, Robert Kloos, ao sair do encontro. A Espanha acusou o parceiro de ter agido de forma irresponsável e exigiu compensações pelo prejuízo sofrido no setor agrícola, que pode chegar a 200 milhões de euros por semana.
O consumo de verduras em toda a Europa pode ser afetado. A Alemanha também sofreu barreiras de importação por parte da Rússia e da Holanda. Os cientistas ainda não sabem se a contaminação dos alimentos ocorreu na plantação ou no transporte. “Com certeza, houve uma falha grave. Como a bactéria é transmitida pelas fezes, o risco maior é dos alimentos orgânicos, que usam adubo animal, mas também é uma patogenia associada à falta de higienização”, explica Beny Spira, professor do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP).
O surto de E. coli do tipo EHEC é raro e a incidência se concentra no Hemisfério Norte. “É uma bactéria comum em muitos mamíferos, inclusive no homem, que geralmente a hospeda no intestino grosso, mas esse tipo produz uma toxina muito potente”, afirma Spira. De acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, em Estocolmo, o número de infectados ainda pode aumentar.
Precaução
A ordem, especialmente na Alemanha, é ficar longe de alimentos crus, e os itens mais suscetíveis seriam o tomate, o alface e o pepino. “Não é necessário provocar pânico. Mesmo no auge de uma epidemia, a bactéria morre no calor. Fazendo uma boa higienização, não há riscos”, explica o especialista da USP. A síndrome causa diarreia acompanhada por sangramento e pode levar à falência dos rins, a problemas no sistema nervoso e à trombose. Um dos grandes desafios é que não existe antibiótico eficaz contra essa variante da bactéria.
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