Importação recua, mas cenário para 2012 é incerto

Valor Econômico - 01/06/2011

Nos quatro primeiros meses deste ano, as importações de produtos siderúrgicos caíram 38%, na comparação com igual período de 2010. O consumo aparente (produção interna + importações - exportações) também cedeu, mas bem menos: 1,9%. A desaceleração no consumo aparente respondeu mais à alta nas exportações (30,7% em volume e 68,1% em valor), do que a um desaquecimento na demanda interna. Estão superados os temores de um déficit crescente e incontrolável na balança comercial do setor? É cedo para esta conclusão, adverte o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo Mello Lopes.

Os números do ano passado corroboram a cautela do dirigente empresarial. Em todo o ano, as exportações de produtos siderúrgicos somaram 9 milhões de toneladas e US$ 5,8 bilhões na receita, um aumento de 4,1% em volume e 22,8% em valor, em comparação com os resultados obtidos em 2009. As importações, em contrapartida, totalizaram 5,9 milhões de toneladas, o que representou um volume 154,2% acima do importado em 2009, e um desembolso de US$ 5,5 bilhões, cifras que soam improváveis para este ano, diante do recuo no primeiro quadrimestre deste ano."A situação melhorou em relação a 2010, não se espera o nível recorde do ano passado, mas os fatores artificiais continuam, portanto não se pode dizer que a ameaça se dissipou", insiste. O dirigente da principal associação de siderúrgicas do país descarta uma recuperação expressiva do real no curto prazo, o que prejudica a competitividade industrial, com reflexos diretos e indiretos no setor. Marco Polo acentua que não é possível prever com exatidão a balança comercial do setor siderúrgico para os próximos dois anos.

O fator decisivo, para o executivo, é a evolução das condições de competitividade da indústria brasileira frente à combinação perversa de concorrência desleal, custos tributários elevados, e à política cambial. "A perversidade em relação ao câmbio ataca todo o setor fabril", afirma. "O setor automotivo, enfrenta problemas imensos com a entrada de tantos carros importados". O país, para Marco Polo, vive sob condições de estabilidade econômica, política e financeira. Com seu crescimento interno, atrai investimentos, o que faz com que o real possa se manter nesse patamar apreciado.

"O que resta a fazer é a agenda de competitividade para reduzir as assimetrias com os concorrentes externos. Precisava reduzir impostos sobre folha de pagamento, investimentos, exportação, e baixar o custo de energia". O IABr previu que a produção doméstica chegaria a 47 milhões de toneladas este ano, um avanço de 3,4% sobre 2010. "Nossas perspectivas sobre volume de vendas no mercado interno e externo, consumo aparente, investimentos, estão todas sendo refeitas. Não temos ideia ainda de como será este ano, muito menos 2012, particularmente pelas incertezas no cenário externo".

Em 2010, o setor encerrou o ano com uma capacidade de 44,6 milhões de toneladas, em face de uma demanda de 29 milhões de toneladas. O que sobra, em tese, é uma quantidade que pode ser exportada. Em abril, os embarques subiram 9% em relação a abril do ano passado, o que indicaria uma recuperação. O setor teria como trunfo, à primeira vista, a diversificação de destinos, mas Marco Polo é cauteloso: "Vendemos para cem países, mas nossos principais importadores são os dos países da América Latina".

Dados trazidos dos principais congressos internacionais do setor pelo presidente do Conselho Diretor da IABr, André B. Gerdau Johannpeter, revelam que os países latino-americanos, por se saírem melhor da crise global, atraíram volumes crescentes de importações. Com estruturas tributárias mais competitivas e políticas comerciais mais agressivas, produtores asiáticos e europeus, em especial, se saíram melhor do que os brasileiros na disputa para recolocar produtos em terceiros mercados. E o que não falta são excedentes: há um excesso de capacidade de produção de aço no mundo estimado em cerca de 550 milhões de toneladas por ano. Isso corresponde a 40% do consumo global estimado em 2010, e a mais de quinze vezes a produção brasileira estimada para o ano passado.

Esse comportamento das locomotivas da economia mundial também ajuda a explicar a cautela de Marco Polo: segundo a World Steel Association, até 2012, Europa e Nafta (EUA, Canadá e México) devem se manter ainda abaixo dos níveis anteriores à crise financeira global de 2008. "Esses são dois grandes mercados que ainda continuam num passo lento. Ou seja, o grande fiel da balança continuará sendo a China, cuja produção é de 800 milhões de toneladas e cuja demanda gira em 700 milhões. Se houver uma queda, pode haver um excedente maior de aço no mercado. Todos os olhos estão lá", afirma o executivo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário, muito obrigado pela sua visita!