Autor(es): Por Andrew Monahan | The Wall Street Journal, de Tóquio
Valor Econômico - 01/11/2011
A séria intervenção do governo japonês no câmbio do país ontem foi mais uma tentativa de socorrer seus exportadores, num momento em que muitos estão relatando lucros baixos e planos para transferir a produção ao exterior.
Acredita-se que a quantidade de ienes gastos por Tóquio tenha batido o recorde para um único dia. O ministro das Finanças, Jun Azumi, não quis comentar o custo da manobra de ontem, mas traders disseram que o Japão provavelmente vendeu um total de cerca de 7 trilhões de ienes (ou US$ 89,8 bilhões) - o que excede em muito os cerca de 4,5 trilhões de ienes vendidos na última intervenção, em 4 de agosto. O governo, aparentemente, segurou as vendas quando o mercado europeu abriu, confinando a operação ao horário de negociações asiáticas.
A intervenção inicialmente provocou uma alta de até 5% no dólar em relação ao iene, para 79,55 ienes por US$ 1, o maior nível desde o esforço de agosto. Mas o iene rapidamente recuperou algumas de suas perdas, na medida em que os exportadores japoneses e outros investidores aproveitavam a queda acentuada para comprá-lo em níveis atraentes.
A queda acentuada do iene foi particularmente bem-vinda porque ocorreu no fim do mês, quando muitos exportadores japoneses precisam comprar a moeda para quitar transações. Subitamente eles conseguiram muito mais ienes por dólar, já que a intervenção fez o dólar subir para 79,55 ienes, depois de bater recorde de menor cotação, a 75,31.
Mas analistas dizem que o governo terá que continuar desembolsando muito se o primeiro-ministro Yoshihiko Noda quiser mesmo afastar a séria ameaça de o iene continuar subindo. E mesmo assim o Japão continuará sujeito a forças em grande parte fora de seu controle. Visto como moeda segura, o iene pode voltar a se valorizar diante de novas convulsões na crise de dívida européia ou se o Federal Reserve, o banco central americano, afrouxar novamente a política monetária, o que tornaria as aplicações em dólar menos atraentes.
A incapacidade de dar à economia japonesa, impulsionada por exportações, mais do que uma trégua fugaz de um iene forte aumentará as dores de cabeça do governo de Noda, que ambém luta contra um Parlamento dividido que retardou a resposta ao terremoto de 11 de março, ao tsunami e ao acidente do reator nuclear.
O iene forte torna os eletrônicos, os televisores e outros bens japoneses menos competitivos no exterior e diminui os lucros repatriados para o Japão. Os recentes aumentos da moeda comprometeram o rápido progresso feito na recuperação do choque na cadeia de fornecimento causado pelos desastres de março. Eles têm nublado as previsões de lucros, já reduzidas pela lentidão nos Estados Unidos, China e Europa.
A reação cautelosa das empresas importantes de tecnologia e de automóveis do Japão reflete ceticismo de que a intervenção cambial trará benefícios no longo prazo, embora as mesmas tenham corrido para trocar por ienes seus dólares e euros, que ficaram mais valiosos de uma hora para a outra.
O vice-presidente executivo do conglomerado japonês de eletrônicos Toshiba Corp. Makoto Kubo chamou a intervenção de segunda-feira de "extremamente positiva", mas também disse que a intervenção por si só não pode dirigir o mercado.
Os resultados divulgados pelas empresas japonesas revelam quanto dano já foi causado pela alta da moeda. A TDK Corp, fabricante de material eletrônico e CDs graváveis, disse que vai cortar cerca de 12% de sua força de trabalho global, em parte devido ao iene forte.
Após a intervenção, Noda, o primeiro-ministro, disse que o movimento foi feito "para evitar que riscos negativos para a economia japonesa se concretizem". O ministro já disse que as estratégias anunciadas recentemente pelo seu governo para ajudar as empresas prejudicadas pela alta do iene têm o objetivo de evitar que a indústria japonesa "se esvazie" à medida que a produção seja transferida para outros países. É improvável, no entanto, que o apelo de produção no exterior desapareça no momento.
A gigante de eletrônicos Panasonic Corp. ofereceu um lembrete austero dessa dinâmica, sugerindo que ainda prefere colocar seus ienes "para trabalhar" no exterior para evitar perdas de câmbio. "É extremamente difícil fazer novos investimentos no Japão agora", diz o diretor financeiro Makoto Uenoyama.
Enquanto as empresas já se preparem para os desafios causados por um iene mais forte, o Ministério das Finanças, que dá as ordens sobre intervenções no Banco do Japão, já está sendo criticado por encomendar a operação de segunda-feira.
José Manuel González-Páramo, membro do conselho executivo do Banco Central Europeu, disse ontem que ambora o Japão possa fazer o que quiser, intervenções unilaterais têm efeitos negativos na estabilidade global.
Os investidores geralmente compram ienes quando há turbulência nos mercados financeiros mundiais. O enorme superávit em conta corrente do Japão e sua deflação persistente tornam a moeda um porto seguro, mesmo com os outros problemas fiscais do Japão.
(Colaboraram Tom Lauricella e Juro Osawa.)
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