Com real em alta, exportações têm queda de 3,2% no primeiro trimestre

Autor(es): Paulo Justus
O Globo - 04/06/2011

Segundo IBGE, importações caíram 1,6% frente a igual período de 2010

SÃO PAULO. Como reflexo da forte valorização do real frente ao dólar e da desaceleração do consumo interno, as exportações e importações de bens e serviços ficaram negativas no primeiro trimestre deste ano, marcando as maiores quedas desde o primeiro trimestre de 2009. Segundo dados do IBGE, em volume as exportações caíram 3,2% frente ao último trimestre de 2010, enquanto as importações recuaram 1,6% na mesma comparação. No primeiro trimestre de 2009, auge da recessão, as compras externas ficaram negativas em 11,2%, enquanto as importações recuaram 19%.

Para o vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Fábio Martins Faria, o desempenho das exportações reflete principalmente a perda de competitividade do país com a valorização do real. Para ele, esse cenário afetou principalmente o setor industrial. O desempenho só não foi pior porque as exportações de produtos básicos impediram uma queda mais acentuada das vendas externas brasileiras, graças à alta das commodities no mercado internacional.

Tendência até o fim do ano divide opiniões

A tendência para o desempenho das exportações até o fim do ano divide os especialistas. Professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas (EPGE-FGV), Fernando de Holanda Barbosa afirma que as vendas externas vão continuar fracas, por causa da dificuldade das indústrias em exportar com o real valorizado e à recente queda nos preços das commodities, que reduz os ganhos das exportações de produtos básicos.

- A variável mais importante das exportações realmente é o preço das commodities e, do lado da indústria, o câmbio brasileiro, que vai continuar valorizado durante um bom tempo - disse.

Já Faria, da AEB, prevê que as exportações passarão a ter um papel mais relevante no PIB, graças à desaceleração da atividade econômica do mercado interno.

- A expectativa é que se tenha um crescimento das exportações para o restante do ano. No entanto, esse crescimento será puxado por commodities. Não vai se refletir num aumento da produção industrial, que vai continuar com um menor dinamismo, em razão da perda de competitividade.

De acordo com a sondagem industrial da FGV, as exportações começaram o ano acima do nível satisfatório, com mais empresas apontando mais demanda forte que fraca. Mas o indicador de nível de demanda externa se inverteu já a partir de fevereiro. O último dado, de maio, mantém-se pessimista. Dos 14 setores pesquisados, 10 apresentavam índices abaixo do satisfatório. Segundo Faria, essa percepção fez muitas empresas direcionarem a produção para o Brasil.

- A rentabilidade no mercado interno está melhor do que no mercado externo, por causa da apreciação do câmbio.

Essa pressão cambial deve se manter até o fim do ano. A projeção da AEB é que o dólar encerre 2011 cotado entre R$1,68 e R$1,65.

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